terça-feira, 31 de dezembro de 2013

LOBO DA TÂSMANIA - Thylacinus Cynocephalus & o Demônio Humano: Thomas Hobbes: "O homem é o lobo do homem" & de Todo Planeta..






LOBO DA TÂSMANIA

  Thylacinus Cynocephalus

&

O DEMONIO HUMANO






O vídeo  acima traz a reflexão sobre a desesperança estampada no último ser de uma espécie, que foi  dizimada pelo maior e mais terrível  destruidor do Planeta.  Não que a evolução seja  maligna em si mesma, porém o lobo ou tigre da tasmânia viu o predador mais implacável do planeta bater na sua porta. O bípede implume que Platão chama de racional, traz consigo um rastro de terror e destruição aos que compartilham o mesmo planeta.  A evolução do homo sapiens deu-lhe ferramentas além de suas necessidades de ser, possibilitou a devastação na terra.  A ganância do ter, da propriedade, do possuir - acumulando objetos além de suas necessidades, consequentemente, privando outrem.




Vejo a coisa-em-si se manifestando no fenômeno do último ser da espécie Thylacinus cynocephalus.  O tigre da Tasmânia em sua forma prestes a se extinguir diante de um invasor e opressor  sanguinário. O Lobo Marsupial abre sua alma para ecoar pela eternidade das devastações humanas.  O tribunal dos colonos advindo das longínquas terras da rainha não demorou a dar seu veredicto, condenou o lobo da Austrália Insular, baseado na ignorância e na avidez de lucrar do capitalismo a vapor. É o mesmo espirito que dizimou as populações indígenas, os búfalos na América, que colocou crianças a trabalhar por mais de doze horas nas suas fabricas de moer carne humana.

 

A foto impressiona, expressa o animal encurralado, angustiado, subordinado aos caprichos do invasor que imputou a culpa sem direito a defesa. Na retina da vitima está impresso o matar pelo matar do invasor, a diversão de caçar como faziam com as raposas na Ilha da Honrosa Rainha. Nos cérebros humanos há lógica, justificativas para depredar, para abater por abater. Pensam: "Se encarceramos o nosso próximo, se matamos a nós próprios para conseguir mais riquezas, usufruir de mais conforto; nós que somos superiores, atestados pelo livro sagrado, então,  outros seres inferiores são apenas detalhes da nossa escalada ao poder". Nada é empecilho para a filosofia de acumular riquezas. Animais serão dizimados. Especies serão extintas e até mesmo o  melhor amigo poderá ser traído para que objetivos sejam alcançados. 


 


Thomas Hobbes:

 "O homem é o lobo do homem"




  






segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Vaticano, Física Quântica, Arte & Barbáries




Vaticano, Física Quântica, Arte & Barbáries



O sol vermelho com suas tempestades ao amanhecer pede poesia dentro do meu córtex. Não consigo mais ver a beleza nas coisas que tem um fundo igual, ao perceber a transparência com uma mente livre. Elas somente se diferenciam no antropomorfismo, nos valores que os mais fortes dão para que seus sistemas funcionem. Olhamos as belas obras da igreja católica, todo seus adornos de ouro, a indumentária do sacristão, nos coloridos dos bispos e do vestuário sumptuoso  do papa. Vemos coloridos, pompa e luxo. Nossos olhos se maravilham com artistas como Da Vinci, Rafael, Miguel Ângelo, Bernini & tantos outros que espalharam as genialidades sobre/sob o estado católico. Se ficássemos presos a esta faceta cultural-artística-religiosa,  poderíamos nos orgulhar da essência humana.



O problema começa quando ao redor deste núcleo de ouro, a arte e orações surgem Torquemadas. Fazendo fogueiras de homens, fervendo em óleo os hereges, torturando dissidentes da santa doutrina cristã. Iniciam-se.  Cruzadas em nome da religião, mas o que está por trás dos "santos" cavaleiros - Escondem-se a ideologia das pilhagens. Invasões de países, intolerância e assassinatos em massa... Atualmente o sangue foi estancado, de vez em quando pinga dos interesses econômicos do vaticano, mas a pedofilia encontra abrigo sob o simbolo da cruz & Papas entram & Papas saem e os discursos se tornam inócuos quando confrontados com a realidade.



Quanta barbárie, quantas injustiças em toda parte - guerras, fomes, opressão. O belo, o sublime, o horripilante são formados pelas mesmas sub-partículas físicas, movimentadas pelas quatros forças do universo. Fico pensando no ser que não encontro na ontologia de Heidegger, na filosofia grega, em especial no imóvel ser de Parmênides ou no Panta Rei de Heráclito, mas sinto uma estranha sensação de preenchimento quando o álcool lentamente invade meu corpo e se manifesta concordino com minhas visões de William Blacker. Claro que minhas alucinações reais não tem deuses nem seres míticos. Contudo se manifestam nos entes da física quântica, seres matemáticos, lógicos que encontram realidade exata nas sinapses da minha mente - mente no sentido darwiniano - sinto que a transformação da minha energia consciente está chegando ao fim. & como Epicuro não estou preocupado com thanatos, pois quando ele está eu já não mais estarei e isto me é indiferente....


 

O sol se levantou mais uma vez, contrariando Hume, se levantou mais cedo e bordou de rosa o horizonte, a matéria escura. Ela ocupa uma parte do meu pensamento, entrementes, Neil Young com sua Cinnamon Guirl ecoa no computador. A cabeça gira após doses cavalares de vodca na madrugada, mas nada de novo no front, sempre condenado por ser humano e La Nave Va de Felinni e a Nau dos Desesperados me deixa numa ilha para respirar a solitária solidão... Sou um naufrago, mais um idiota separado da multidão de imbecis, melhor seria ter nascido ou evoluído no espaço-tempo como uma pedra sem valor....






LA NAVE VA




terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Suicidal Tendencies - Tudo Terá Um Fim





Suicidal Tendencies


Tudo Terá Um Fim









A cama estava quente e confortável. Um ponche de lã batida cor de café com leite com listras em zigue-zague, cinzas e vinho, junto com um edredom roxo aqueciam Ziembiksh. O agradável calor, o conforto térmico possibilitado no quarto, contrastando com o intenso frio que emanava do polo sul, não demoveram o instinto suicida de Z.  Na quietude gélida e escura do inverno de junho os termômetros cravavam temperaturas negativas, mostrando o rigor do inverno sulino. Z. levantou sem fazer ruido ou acender a luz e começou a executar seu plano, seu projeto de autodestruição. Providenciou uma escada de corda, comprada numa ferragem decadente de um amigo zen-budista. Prendeu-a de forma eficiente e jogou pela janela do sobrado, dando partida,  iniciando o planejamento minucioso. 










Abriu e fechou as mãos sucessivamente até que o sangue congelado começasse a circular. As lajes de grés rosas com finas camadas de gelos não incomodavam Z. Seu corpo nu desafiava o clima severo.   O deserto invernal foi sendo rasgado na madrugada soturna. A rua arborizada da infância foi ficando para trás, assim como as lembranças dos jogos, das brincadeiras, dos cinamomos e suas bolinhas que possibilitaram velhas batalhas entre os garotos do bairro. A ideia fixa no suicídio foi deletando a memória agradável, as boas lembranças  e justificando cada passo em direção ao fim. 

Z. sentia-se excluído do processo social, sofrera por longo tempo bullings. Por ser muito tímido, aceitava sem resistir as agressões verbais e físicas. Seu winchester biológico através da timeline armazenava os fatos negativos e deletava as informações de bem estar. Ziembiksh se transformara numa máquina de auto-destruição, estava programado para o suicídio.










A Via Crucis foi sendo percorrida. Z. sabia que não podia voltar atrás. A balança da existência pendia de forma inextrincável para o final.  Faltava pouco para se livrar da penitência que era sua vida. Não tinha nenhuma ilusão quanto alguma transcedência. Um pensamento monocórdio  recocheteava na caixa craniana: "Nascemos sós, morreremos sós...". Ziembiksh era uma mistura de zen-budismo com marxismo-lenilista. A universidade lhe deu a posição politica radical de esquerda. Usava a ideologia marxista como  uma espada para esgrimar com as injustiças do mundo. O zen-budismo lhe chegou junto com a paixão por Aymee, uma francesa que conhecera no primeiro Foro Mundial Social em Porto Alegre. Foi feliz por quatros anos. Incensos, viagens ao templo budista de Três Coroas. Alimentação vegetariana, uma existência frugal, mas uma overdose de heroína roubou-lhe a felicidade para sempre. Aymee experimentou pela primeira vez a droga - não resistiu. Seu corpo quase transparente, frágil não suportou a busca de uma nova experiência. 










Os passos continuaram em direção ao rio. Uma parada planejada. Pegou a corda que guardara no dia anterior nos arbustos, que antecediam a margem da água doce. O vento dilacerava a carne, mas nada o faria desistir. Na margem - amarrou uma ponta do nylon no pescoço e outra num pedaço de concreto. Segurou os vinte quilos de cimento e andou até a beira do canal com vinte metros de profundidade. Não havia mais nada a fazer, senão jogar o concreto em direção a profundidade das águas frias e escuras... Era o deadline para acabar com o inferno de sua vida.... Arremessou a massa informe de concreto para a profundidade do canal, mergulhando para a insignificância que todo ser humano está condenado, desde quando emerge do ventre e emite o primeiro vagido...















quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Projeto Cientifico de Auto-Destruição ou Deus-Nada-Infinito II



DEUS NADA INFINITO - II



A última vez que falei com Desgedder senti que estava meio depressivo. Seu rosto se parecia com o Cavaleiro da Triste Figura, mas sem as ilusões do romântico personagem. Bem ao contrário do quixotesco personagem - que se alimentava de sonhos e moinhos. Seus lábios estavam roxos - quase negros. Sentamos ao redor da mesa do bar.  A nossa conversa foi regada com cerveja e varias doses de whisky. Desgedder estava com ideia fixa na morte, para ele a existência é uma invenção da natureza. Os homens existiriam para que o universo desse gargalhadas da sua fragilidade, da sua arrogância.

D: - Vou abrir o jogo pra ti. 

Alguns minutos de silêncio, algumas doses de whisky e cerveja para amenizar o calor insuportável. Quando voltei a olhar diretamente para D. ele fazia um movimento da mão até boca. Pude ver que ele tinha comprimidos na mão, mas logo desapareceram em direção ao estomago. Retomou o folego e começou a expor seu segredo:

D: - É difícil falar... Bem,  mas parece que você é capaz de guardar segredos e não interferir na vida de terceiros.

- Só interfiro, quando posso ajudar e, assim mesmo, quando há concordância.

Depois de mais uma pausa, D. começou a expor seu segredo: 

D: - Na realidade, estou obsedado - com ideia fixa na morte. Li o livro Tibetano dos Mortos, Bardo Thodol, pensando que teria alguma resposta, um consolo para suportar a realidade tão pesada em que vivo. Mas fiquei ainda mais decepcionado com tanta projeção de ilusões - de que temos uma transcendência após a morte.

- Bem... A filosofia oriental, o budismo tem na sua essência a reencarnação, o Karma e o Darma. Se você não acredita em espiritualidade e transcendência escolheu o livro errado.

-Sim... É verdade. Você sabe que sou ateu, mas  acreditei que encontraria na  sabedoria oriental  um pouco de suporte neste momento caótico...


Desgedder levantou e foi em direção ao banheiro. Por momentos, pensei que ele estava flutuando, levitando. Ao voltar, disparou uma frase que congelou minha racionalidade e sentidos. Apesar de tempos em tempos este tema rondar meus pensamentos:


D: - Cara. Estou a fim de um suicídio...

Desgedder novamente levou a palma da mão em direção aos lábios e engoliu mais uns comprimidos. Solicitou que o garção deixasse a garrafa de whisky na mesa e continuou:

D: - Falando sério. Não vejo mais sentido na vida. Não tenho inspiração para fazer nada a não ser a minha própria destruição... Não devia ter me aprofundado tanto em teoria quântica. Primeiro foi o encanto com um mundo infinito de possibilidades. Achei genial a frase de Heisenberg: "Vivemos a Era da Incerteza". Porém aos poucos fui percebendo que o homem não tem nada de concreto sobre o universo. Somos joguetes das forças da natureza. Tudo que me ensinaram era apenas distração para desviar meu pensamento da morte.

- Bem, não sei o que vou falar vai produzir resultado no seu animo, na sua vontade - que procura intensamente o nada. Confesso que já passei por um período depressivo violento - após a abstinência de heroína. Não aceitei que me levassem para nenhuma clínica. O  que me ajudou a escapar desta foi a natureza pura, esta que você diz que nos somos joguetes.

D: - Fale... mas não vai adiantar...

- Well, em meio a Tempestades & Tormentos & desejo do Deus-Nada-Infinito, me caiu nas mãos um livro de Schopenhauer, O Mundo Como Vontade e Representação. Schop foi muito influenciado pela filosofia oriental, que entre suas inúmeras passagens de sabedoria discorre sobre a vontade. O Karma seria o ciclo vicioso da vontade. Estamos num ciclo interminável, cada vez que saciamos uma vontade surge outra. Hodiernamente o Mercado soube canalizar - o eterno retorno - para o consumo. O sistema   de 
Palingenesia, tão bem sacado por Nietzsche, virou a filosofia da máquina que tritura os sonhos e escraviza o homem atual, ou seja, o capitalismo e o deus mercado.


D: - Mas, isto só reforça meu desejo do nada.

- Desculpe, já ia me enrolando em  ramificações, mas vou ser objetivo. Schop diz que a única maneira de você driblar a vontade e ter contato com o Ser Verdadeiro é por meio da admiração da natureza pura. Ele menciona também as artes, principalmente, a música como possibilidade de momentos de união com o Sein-an-sich. Tanto foi... que seu herdeiro mais imediato elegeu a música e as belezas naturais do sul da europa como seu trampolim de salvação do grosseiro espirito germânico e da decadente cultura tedesca.

D: - Nietzsche disse: "A vida Sem a Música seria um erro". Falou porque não conhece o que temos hoje... 


- Imagina.. Teria se matado, Ops, não deveria mencionado isto...


D: - Não te preocupe, pois o que você me disser não vai fazer efeito, já tomei uma decisão. Vou cometer suicídio mais cedo ou mais tarde e isto está baseado em teorias, em tudo que aprendi com a Física quântica... Diria que é um suicídio cientifico.   

- Se isso te serve de consolo, já tentei algumas vezes... já que estamos num diálogo franco- alcoólico .. Sempre fui incompetente, talvez por ter tentado a versão feminina. Não sei quantas vezes utilizei soníferos e álcool e sempre acabei acordando em alguma emergência de hospital. 

D: - Veja bem,  o que está acontecendo. Em vez de você tentar me convencer o contrário, sinto que estou te influenciando. Quem sabe vamos para o teu Deus-Nada-Infinito juntos?



- Vou te responder usando a tua especialidade, a física quântica, o mundo é um infinito de possibilidades. Convença-me... 

O dialogo perdurou por mais algumas horas e algumas garrafas de cerveja e doses de whisky.  Desgedder usou sua convicção em relação ao suicídio, sua teoria cientifica de automutilação para me convencer. Confesso que depois de meus neurônios serem invadidos por um exercito de moléculas etílicas...vacilei. Porém sabia que o meu principio de auto-conservação era mais forte que o de D.  Não sei se isto me transforma em covarde ou herói, mas o que tenho de concreto é o oxigênio que entra nos pulmões, a música de Mahler e o copo de absinto - que me acompanham enquanto escrevo este texto-maxikoan. Quanto a Desgedder faz um mês que não o vejo... certamente, ainda não executou seu projeto cientifico de autodestruição, pois as notícias ruins viajam a velocidade da luz...





MACHADO DE ASSIS:
"Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria"







quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A Cabeça de Nietzsche




Nietzsche Odiou e Amou Wagner...



Esta Frase Sintetiza a Obra do Filosofo - assim foi com o Cristianismo, com Lou Andreas-Salomé... 

A contradição gera a dialéctica, a dialéctica nos lembra Heráclito que disse: "Panta Rei" - hoje nos sabemos que tudo flui, tudo muda... O Universo Newtoniano foi readaptado a uma nova exigência da ciência do século vinte e mesmo Einstein que o modificou teve que fluir e admitir que o Universo não era estático e sim estava em expansão. Este processo do fluir continuará até que o último Ser da humanidade pereça por uma catástrofe natural ou artificial - e ai - não restará mais nada, pois teorias só servem para os homens, pois para o restante do universo elas são indiferentes, assim como os Deuses de Epicuro Ignoravam a Humanidade... 




 




A Cabeça de Nietzsche



Caminhava pelo basalto que margeava as veias asfálticas, um varredor vassourava as flores lilases dos jacarandás, dispunha em figuras geométricas - um esteta-matemático-prático. As ruas sulinas encanavam o vento que adejava minha jaqueta de veludo - uma capa surrada de anti-herói.  Apesar de bandarrear - tinha um projeto. Consistia em fisiologicamente tentar reproduzir o cérebro de Nietzsche para melhor compreender sua filosofia. Seria como cortar a própria carne - cobaia e cientista ao mesmo tempo. Depois de ler alguns livros e assistir uns Youtubes do filosofo - iniciei o processo.

Selecionei quatro fatos de Nietzsche que achei fundamental para o intento:

a) Pegar a doença venérea denominada sífilis.

b) Abusar de narcóticos.

c) Manter relações sexuais com profissionais do sexo.

d) Ser abatido por uma paixão violenta de uma mulher bela e inteligente e ser desprezado pela mesma.


O objetivo foi alcançado. O item a e c se complementaram - bastou se relacionar sem o preservativo. O item b não tive dificuldade - já tinha uma larga experiência - foi só intensificar as doses. O mais dificultoso foi o item d, mas consegui achar a minha Salomé. O coquetel explosivo me transformou em nitroglicerina pura. Cefaleias constantes, vertigens, misoginia, solidão ao extremo, sentimento de que a escala de valores morais deveria ser invertida.





A partir de Agora, Tudo o que Você Ler, Será Sob o Efeito da Experiência denominada: 

Cérebro de Nietzsche 

Resolvi extremar de vez. Fui a uma região montanhosa e me embretei em uma caverna com cheiro de amônia, causada pela urina dos morcegos. Levei muitos cadernos e canetas para as auto-observações. Sentia Zaratustra incorporar no meu espirito. Estava livre da moral de rebanho, dos fracos e dos racionalistas que negam a vida. Ouvia uma catadupa que distava alguns quilômetros, era a voz da natureza, de dionísio no seu mais alto esplendor. Logo nos primeiros dias fiz amizades com serpentes e águias. Comungavam dos meus filosofemas. Assim como eu desdenhava dos racionalistas, dos fracos, dos cristãos, dos moralistas - elas abominavam as corujas, os caprinos e as ovelhas domesticadas. Mantive muitos diálogos com  Aves de Rapinas e Víboras. Abaixo mostro o último:




Zaratustra - Admiro vossas naturezas que mostram o vigor puro do instinto, a aretê da Antiga Grécia, anterior a Sócrates...


Serpente - A minha espécie usa de dois dispositivos para existir, os maiores ofídios tem a força, a constrição para esmagar  e capturar as presas ou vitimas como queiram;  já os menores usam a complexidade molecular  da peçonha, do veneno para imobilizar as vitimas, para devorar nossas presas, fazemos sem culpa, sem ressentimentos, pois nos apoiamos na lei do universo em que a força maior se imporá sobres outra menores... 




Zaratustra - Mas note bem, apesar da força maior sobrepor as outras, ela conserva as menores, soma para criar mais vigor...


Serpente - Então deve ser por isso que me sinto mais forte, mais completa a cada vitima digerida...


Águia - Vocês podem me enxergar menor quanto mais alto eu voo, mas lá de cima respiro o ar mais puro, enxergo minhas vitimas para predar com mais precisão.


Zaratustra - Meus novos amigos, vim para este lugar para ficar longe do ar pesado, do azedume da moral dos homens, do mundo artificial que contamina com seu veneno até o último átomo.


Serpente: Qual sua presa?


Zaratustra - Minhas presas preferidas são a moral de rebanho,  a promessa de um mundo melhor no futuro, tanto da ciência como da religião. Precisamos viver o agora com força, sem culpa, enfrentar as tragédias como afirmação da vida.   



Águia - Minha espécie não tem moral, pois conhecemos que a única verdade do universo é o instinto, a força.



Serpente - Concordo. Inclusive li um de seus filosofemas caro Z., companheiro de viagem, achei muito interessante e adequado o vosso aforismo: "Aquilo que não me mata, só me fortalece". Achei muito apropriado a nossa espécie...



Zaratustra - Bem meus caros amigos, sinto muito em comunicar que vou ter que deixá-los, pois preciso mais um tempo junto ao imitador rebanho servil ( imitátprés, servúm pecus), necessito de mais elementos sobre o Pathos-Cristão para melhor elaborar a transmutação de todos os valores humanos. Senti-me tão a vontade entre meus iguais - difícil me despedir....




Comecei o caminho inverso, abandonei a caverna que me deu guarita e as Águias e Serpentes que me fizeram  companhia. Descendo a montanha em direção a cidade, comecei a lembrar que havia dinamitado todas as pontes. Tinha vindo com o proposito de me afastar da mediocridade, dos parasitas da razão, da moral, do cristianismo, da mulher que me havia rejeitado. Na realidade, o devir vai repetir o passado e o presente - É o Eterno Retorno... Pensamentos auto-críticos começaram a me perturbar,  pois sentia no fundo da minha alma que a estada na montanha tinha sido inútil.
Estava me tornando um hipócrita, com efeito, queria os prazeres mundanos: álcool, narcóticos e prostitutas. As Cefaleias haviam se agudizadas, não ia mais sofrer, me tornar um estoico, um cristão me penitenciado, enquanto os prazeres me ofereceriam um paliativo....
Resolvi abandonar qualquer projeto filosófico e me deixar levar pelo prazeroso rio de Heráclito, que no seu fluir dissolve todas as metafisicas, todas as morais e constrói uma ontologia do prazer, da carne, da vontade de potência...  

Friedrich Nietzsche:
There are no facts, only interpretations.