terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Suicidal Tendencies - Tudo Terá Um Fim





Suicidal Tendencies


Tudo Terá Um Fim









A cama estava quente e confortável. Um ponche de lã batida cor de café com leite com listras em zigue-zague, cinzas e vinho, junto com um edredom roxo aqueciam Ziembiksh. O agradável calor, o conforto térmico possibilitado no quarto, contrastando com o intenso frio que emanava do polo sul, não demoveram o instinto suicida de Z.  Na quietude gélida e escura do inverno de junho os termômetros cravavam temperaturas negativas, mostrando o rigor do inverno sulino. Z. levantou sem fazer ruido ou acender a luz e começou a executar seu plano, seu projeto de autodestruição. Providenciou uma escada de corda, comprada numa ferragem decadente de um amigo zen-budista. Prendeu-a de forma eficiente e jogou pela janela do sobrado, dando partida,  iniciando o planejamento minucioso. 










Abriu e fechou as mãos sucessivamente até que o sangue congelado começasse a circular. As lajes de grés rosas com finas camadas de gelos não incomodavam Z. Seu corpo nu desafiava o clima severo.   O deserto invernal foi sendo rasgado na madrugada soturna. A rua arborizada da infância foi ficando para trás, assim como as lembranças dos jogos, das brincadeiras, dos cinamomos e suas bolinhas que possibilitaram velhas batalhas entre os garotos do bairro. A ideia fixa no suicídio foi deletando a memória agradável, as boas lembranças  e justificando cada passo em direção ao fim. 

Z. sentia-se excluído do processo social, sofrera por longo tempo bullings. Por ser muito tímido, aceitava sem resistir as agressões verbais e físicas. Seu winchester biológico através da timeline armazenava os fatos negativos e deletava as informações de bem estar. Ziembiksh se transformara numa máquina de auto-destruição, estava programado para o suicídio.










A Via Crucis foi sendo percorrida. Z. sabia que não podia voltar atrás. A balança da existência pendia de forma inextrincável para o final.  Faltava pouco para se livrar da penitência que era sua vida. Não tinha nenhuma ilusão quanto alguma transcedência. Um pensamento monocórdio  recocheteava na caixa craniana: "Nascemos sós, morreremos sós...". Ziembiksh era uma mistura de zen-budismo com marxismo-lenilista. A universidade lhe deu a posição politica radical de esquerda. Usava a ideologia marxista como  uma espada para esgrimar com as injustiças do mundo. O zen-budismo lhe chegou junto com a paixão por Aymee, uma francesa que conhecera no primeiro Foro Mundial Social em Porto Alegre. Foi feliz por quatros anos. Incensos, viagens ao templo budista de Três Coroas. Alimentação vegetariana, uma existência frugal, mas uma overdose de heroína roubou-lhe a felicidade para sempre. Aymee experimentou pela primeira vez a droga - não resistiu. Seu corpo quase transparente, frágil não suportou a busca de uma nova experiência. 










Os passos continuaram em direção ao rio. Uma parada planejada. Pegou a corda que guardara no dia anterior nos arbustos, que antecediam a margem da água doce. O vento dilacerava a carne, mas nada o faria desistir. Na margem - amarrou uma ponta do nylon no pescoço e outra num pedaço de concreto. Segurou os vinte quilos de cimento e andou até a beira do canal com vinte metros de profundidade. Não havia mais nada a fazer, senão jogar o concreto em direção a profundidade das águas frias e escuras... Era o deadline para acabar com o inferno de sua vida.... Arremessou a massa informe de concreto para a profundidade do canal, mergulhando para a insignificância que todo ser humano está condenado, desde quando emerge do ventre e emite o primeiro vagido...















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