sexta-feira, 27 de junho de 2014

Esse Est Percipi - Eu não sou percebido, logo não existo ou Amanhã pode não ser...




ESSE EST PERCIPI

Eu Não Sou Percebido, Logo Não Existo...






Amanhã pode não ser... David Hume disse "Se o sol nasceu todos os dias até hoje, não quer dizer que amanhã ele vá nascer". A neblina fria da noite laminada nas carnes indigentes entra pela inspiração obrigatória do ser determinado, pelo conjunto de fatores que regem a composição do universo... Não tenho mais deuses, livre-arbítrio, suores de prazer. Apenas ouço mentalmente o bolero de Ravel como um compasso a um fim que se estende na linha medíocre do tempo biológico. Os passos em direção ao abismo não são diferentes aos dados para o cerúleo, pois não existe seres demoníacos, nem angelicais. Cada vez fico mais próximo de George Berkeley, mas um Berkeley, sem deus, sem uma mente universal. Apenas comungo que o fenômeno é construído no epifenômeno por meio dos feixes de percepções oriundos do objeto que nunca teremos conhecimento. O nada alimenta o ser, o ser é o nada na revolução que inverte a pergunte de Heidegger ,"Por que há simplesmente o ente e não antes o nada?". O nada constroem o ser. O ser é fruto da árvore que não temos na floresta de nossos conceitos. A floresta chamada realidade é uma impossibilidade para o homem. Kant ao chegar a esta conclusão se comportou como um membro de um povo primitivo. Em vez, de erguer mitos e tabus, como todos aborígenes, construiu as categorias e o imperativo categórico - para se proteger dos mistérios silvícolas. Os tambores do desespero percutiram na mente idealista kantiana, viu seu mundo desmoronar, seu sentido não encontrar guarida no ser, precisava de melhores argumentos para superar a angustia. Precisava de algo concreto, mesmo que fosse impreciso para que almejasse a Pax in Aeternum. Esta seria sua contribuição para o pequeno mundo burguês da individualidade e da perpetua ambição e da justificativa da propriedade; um conceito particular nascido nas entranhas da irracionalidade - que precisava de uma indumentaria universal, racional...





Vivo do nada na existência do vácuo de noites vazias. Os copos estão vazios, as cartelas foram consumidas, as garrafas estão atiradas no chão existencial do quarto que abriga o nada do ser-ai-no-mundo-do-niilismo de cada dia. Não sou percebido, não existo para o mercado, para a sociedade consumista. As letras tentam compor, organizar o nada em fractais sem fim... Nietzsche é digerido, mas não preciso mais de seus filosofemas, suas alegorias baseadas em sua etimologia da loucura. Agora tenho minha própria loucura do nada. O nada é minha palavra definitiva, da sua repetição depende a existência. A madrugada se estende em direção da aurora que pode não acontecer. Faetonte, filho de Hélios e da ninfa Clímene, pode estar guiando a carruagem de seu pai. Pode estar possuído pelo Complexo de Édipo Suicida e destruir tudo que se relacione com o esplendor paterno. As rédeas dos corcéis em suas mãos podem ser comparadas com os botões nucleares nas mãos dos tiranos, que estão encima desta bola chamada planeta terra. Vou buscar o combustível para alma, enfrentar a noite gelada da patagônia, dos ventos polares que chicoteiam as carnes do nada, que preenchem o niilismo em busca do infinito-deus-nada.... Vou como um esquimó perdido no pólo sul, como um urso branco deslocado no mar boreal, navegando em um pedaço de gelo da Antártida a procura de estupefacientes e álcool infinito em direção ao nada.....  Estou preso ao eterno suplício de Tântalo, ao eterno retorno de Nietzsche, sem poder interferir no meu nada eterno, na repetição infinita do nada se projetando no vazio do niilismo...







O NADA É ETERNO, É BRONZE E CRUEL...




segunda-feira, 23 de junho de 2014

GLOBALIZAÇÃO - De Ho Chi Min a Glauber Rocha...



De Ho Chi Min 
a
Glauber Rocha....




Em 1968, se estabeleceu uma ponte energética, um tele-transporte que tinha uma cabeça no Vietnam e outra em Porto Alegre. Para ser mais preciso, a cabeça no Vietnam ficava no meio da selva em que fuzileiros navais americanos e vietcongues travavam sangrentas batalhas. O sul capitalista contra o norte comunista. O fluxo energético se dava da terra de Ho Chi Min em direção a capital gaúcha, que vivia seus anos de chumbo promovidos pela Ditadura Militar. A ponte de transporte durou átimos de segundo, mas foi suficiente para tele-transportar dois vietcongues das selvas para um cinema na cidade brasileira. A casa cinematográfica exibia Terra em Transe de Glauber Rocha, um dos expoentes do cinema novo no Brasil. Os guerrilheiros comunistas caíram no pátio, nos fundos do cine, portando dois Ak-47 e indumentaria camuflada de marrom e verde. Ouvindo o ruído dos corpos orientais, funcionários foram averiguar o que havia ocorrido. Atônitos, os vietcongues colocaram os fuzis no cérebro dos empregados da casa de exibição cinematográfica. Após momentos de tensão e pânico, ouve um incipiente diálogo que misturava palavras em inglês e mímicas.





Na realidade, não era um cinema comercial e sim uma fachada, um aparelho da VPR, Vanguarda Popular Revolucionária, com fins de dar suporte aos guerrilheiros urbanos que lutavam contra a ditadura. O governo militar começava a fechar o cerco contra os revolucionários tupiniquins. Torturas, sequestros, fuzilamento e jogar guerrilheiros ou supostamente comunistas em alto mar era alguns dos meios que a ditadura se servia para livrar-se dos opositores. Os membros da VPR, assim como de todos outros grupos de luta armada, nutriam um sonho utópico de tomar o poder e tornar a sociedade brasileira mais justa. Era o ar que se respirava nos anos sessenta e no início dos anos setenta - depois do exito de Fidel Castro e Che Guevara em Cuba... Na época, Regis Debray lançava a bíblia da esquerda, Revolução na Revolução; em Paris no movimento de maio/68 - era proibido proibir; em todo mundo pululavam ideias revolucionárias que embalavam as mentes em busca de um mundo melhor. Eram Hippies, beat's, maoístas, trotskistas e um leque amplo de rótulos dos que queriam transformar o mundo pela política, pelas armas, pelo comportamento, pelas drogas, pela música...






Foi depois da última sessão no cinema, que os membros da VPR se reuniram para deliberar sobre os dois vietcongues.  Na mesa redonda copos e cinzeiros fumegantes testemunhavam as facções da esquerda, até então diluída no objetivo comum - ver as divergências  emergirem. A ala maoista queria entrega-los para a ditadura militar; já os trotistas, apesar da divergência figadal com a ala soviética, concordaram a favor de mante-los no cinema até aparecer uma oportunidade de mandá-los ao país de origem, outras tendências - divergiam. Contudo, a ponderação e a solidariedade perduraram, afinal, todos vinham da ideologia marxista e tinham um inimigo prioritário em comum, ou seja, o imperialismo americano. Os vietcongues ficariam no aparelho da VPR, o cinema de fachada, até aparecer a oportunidade de envia-los para casa.






O problema da moradia estava resolvido. Ficariam no porão do cinema, apesar de insalubre e pouco iluminado. Estavam bem melhor acomodados do que os tuneis que cavavam e permaneciam na maior parte do tempo no Vietnam, como verdadeiras toupeiras humanas. A alimentação vinha do restaurante macrobiótico estabelecido no centro de Porto Alegre. Uma vez por semana buscávamos arroz cateto integral e cozinhávamos diariamente para nossos hospedes asiáticos.  A higienização dava-se após o fechamento do cinema, os dois subiam até os toaletes e mantinham os corpos limpos. Alimentados e higienizados, os vietcongues se dedicaram a aprender o idioma português e logo começaram a estabelecer pequenos diálogos com os guerrilheiros tupiniquins.




CORTE NO TEMPO:
Decorreram vinte anos. A estadia dos vietcongues no brasil foi "legalizada". Os escaninhos paralelos da esquerda revolucionária, providenciou  documentos. Já não havia o apetite da revolução social, agora o mundo estava empenhado em acelerar sistemas baseados no silício, em sintaxes de linguagens computacionais, erguer Shopping Centers e esconder os miseráveis nos subúrbios das megalopes.   As drogas agora estavam criminalizadas, alguns ex-hippies  operavam em Wall Street, surgiam os yuppies e o capitalismo estava consagrado no ocidente. Os que processavam ideologias marxistas eram taxados de idiotas da América.  As flores das comunidades alternativas agora eram admiradas nas telas dos primeiros Macintosh. Foi nesse contexto que os dois vietcongues embarcaram no aeroporto de porto alegre em direção ao seu país de origem. Alguns ex-guerrilheiros sobreviventes da mão pesada da ditadura, acompanharam os amigos asiáticos iniciar o voo em direção ao oriente misterioso, da china politicamente comunista e economicamente  capitalista.....








quarta-feira, 4 de junho de 2014

Maxikoan - "Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar". Wittgenstein






"Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar".  Wittgenstein





Pensamentos cortam a noite com a navalha fria de um mundo sem sentido. Cada passo neuronal transforma a realidade inalcançável em certezas provisórias. O rio flui por baixo da transparência que o congela. Palavras jogadas ao esmo etimológico pesquisam novas experiências idiomáticas para remover a negação da existência.  O erro foi ter saboreado demais, aprofundado o pensar em busca de leis, que expliquem o universo em expansão desde do Big-Bang. O primeiro passo do homem em direção a humanidade foi um erro ou uma artificialidade que não corresponde ao mundo objetual. Alguns cientistas dizem  que o homem foi expulso do substrato que constituí e move o universo. O homem desenvolveu um estudo, uma biografia da natureza, ou seja, depois de milhares de anos, edificou  a ciência para teorizar sobre a matéria e energia que compõem o cosmo infinito - ou que chamamos de natureza espalhada pelo sem fim desconhecido. Foi outorgado ao homem a missão de  efetivar um grande estudo com o intuito de desvendar todos os mistérios, mitos, leis, equações, números, cálculos e todos artifícios que possibilitem revelar o que somos (homem + natureza). 


Na realidade, o homem e a "humanidade" estão mais perto da auto destruição do que o conhecer o universo. Em cada unidade da "humanidade" temos o incontrolável apetite animal. O que chamamos de racionalidade é apenas um conceito que não encontra paridade nos fenômenos naturais. Somos frutos do acaso e não de um edulcorante livre arbítrio e muito menos filhos diletos de um ser superior. O que chamamos de pensamento, inteligência e racionalidade não passam de fluxos físicos-químicos  dentro do córtex, que reflete os feixes do mundo exterior que entram pelos sentidos. O filosofo e lógico-positivista, Wittgenstein proferiu o enunciado que desmancha a pretensão humana de explicar o universo; e representa a impossibilidade de chegar a uma verdade peremptória:

- "Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar".



Os pensadores tão realçados e relevados pela cultura humana, não passam de ingênuos codificadores do incompreensível.  O animal homem caminha há cem mil anos pela superfície do planeta. Cada lapso de tempo que consome e produz seres bípedes-implumes de Platão é recheado de ilusões- com o fim de impedir um suicídio coletivo da humanidade. O antropomorfismo (cultura, ciência, tradição, etc..) serve de estímulo e ópio para o homem sobreviver sua desgraça terrena e única.  Deus é a válvula de escape para a sensação de impotência humana. A religião é a forma de poder em que os mais fortes manipulam o rebanho servil. O estado é o artificio legal para manter o status quo. As filosofias necessitam do estado de hegel para que o lobo predador mau de Hobbes e o símio dócil de Rousseau possam assegurar sua ideologia. O bom e o mau não encontram guarida na natureza, são apenas adjetivos para que postulantes ao poder possam iludir as massas reprimidas. Representam atributos de discursos em busca do poder. A terra não tem sabor, a água não é seca nem molhada, os átomos e sub partículas só existem nas teoria depositadas nos cérebros digitais e orgânicos. Na realidade, a natureza não sabe quem somos, ou melhor, nos mesmos não sabemos quem somos. A natureza existe, mas sua definição é o elemento que faz o homem percorrer o tempo em direção ao nada. O homem é como o cavalo que corre atrás da cenoura pendurada na vara, o cavaleiro põe a frente e por mais que o equídeo corra, a distância entre o seu apetite e a realização, permanecerá a mesma....  




"Whereof one cannot speak, thereof must one be silent."


Wittgenstein