sábado, 20 de dezembro de 2014

Carapideskokolucho Coli - Superbactérias, Discourso nº 50 & Instituto SOROS






Carapideskokolucho Coli

Superbactérias, Discurso nº 50 & Instituto SOROS





Quando ouço a multidão falar:
- O que ele fala não faz sentido.
 Fico com a voz socrática a rebumbar nas paredes do córtex:

"Cara, fica frio. O povo é um rebanho guiado por pastores que se alimentam nos pântanos da ignorância humana e bebem a  água da compensação do sobrenatural".

Carapideskokolucho Coli, na sua rotina de  loucuras, emitia discursos ininteligíveis, enquanto raspava a sola do sapato na boulevard. No entanto, Zinestin, um cientista pesquisador de novas formas de semânticas paralelas, seguia Coli  com um gravador discreto. No seu estudo, financiado por uma ONG, suportada pelo Instituto Soros, Z. classificava as ininteligíveis peças discursais de Carapideskokolucho. O mais recente foi titulado como Superbactérias: 








Discurso Nº 50
As Superbactérias.
Autoria:  Carapideskokolucho Coli



A humanidade precisa eliminar sua memoria afetiva para não sofrer um grande colapso emocional, pois tempos de superbactérias, epidemias e inefáveis quantidades de mortes dominarão as épocas vindouras. Os laços familiares, de amizades, de amor e empatia não poderão coexistir com o tempo de catástrofes que se avizinha. O ser humano será um farrapo contaminado de doenças que diminuirão drasticamente sua expectativa de vida, isto para privilegiados, pois a mortalidade infantil chegará na casa dos noventa por cento. Teremos mais hospitais do que igrejas; farmácias e prontos- socorros serão a nossa segunda casa. As relações afetivas se tornarão impossíveis, pessoas com laços de parentesco assistirão os seus entes nascerem e morrerem numa velocidade espantosa. Os sobreviventes andaram pelas ruínas citadinas com seus corpos ejetando vermes pela epiderme. As entranhas serão moradias de super bactérias, vírus e hormônios sintéticos advindos das torneiras dos recursos hídricos privatizados.  Os rios secarão... seus leitos pulularam  doenças e pragas que dizimarão as safras GMOs (T) e a fome se espalhará sobre os zumbis terráqueos. As temperaturas cozinharão as carnes vivas dos animais, o planeta deletério se encarregará de destroçar os seres supervenientes. As elites em suas redomas esterilizadas serão engolidas pelo fogo vindo do espaço... O fim dos tempos está perto... 







terça-feira, 18 de novembro de 2014

Paralipomena - Underground, Escrever, Write...



 Paralipomena

Underground, Escrever, Write... 





Escrever é como xadrez, você apreende alguns movimentos e já pode jogar. Não precisa de "inteligência", não precisa ganhar o jogo - apenas jogar, apenas escrever.... Porém, para jogar letra no papel, precisa-se das entranhas, jogar os fluidos glandulares no texto, nas entrelinhas. É preciso o arrepio da beira do abismo, a depressão da mais profunda fossa oceânica, o aroma das pétalas, o odor tenebroso das carcaças em adiantado estado de putrefação. Satã será vossa companhia na solidão escritural. Escrever só é possível nos infernos pessoais, no érebo, por baixo da terra, numa cova rasa, na singularidade de um black hole. Astronautas não escrevem quando estão no espaço. Emitem ondas que viajam pelo vácuo de sentido com suas vozes codificadas.  A matéria-prima do escrever só pode ser ceifada numa selva psicológica de desajustados, colhida nos trigais de Van gogh, na loucura de William Blake, na dantesca sociedade humana. Se você quiser manter seu figado intacto, livre de cirrose,  de hepatites, de tumores destrutivos, apenas, fique na superfície, escreva para os jornais, para a big media, para as vitrines dos shoppings. Um movimento errado no xadrez você perde o jogo, um erro de sintaxe pode gerar um estilo. Um defeito no escrever pode, como um grão de areia na ostra, virar uma perola. Não se preocupe com a gramática, pois quem escreve conforme as leis é apenas um alienado que tolhe o ser que se manifesta na linguagem-livre-fluida. O escrever precisa de liberdade, de álcool, de loucuras e rompimento com status quo. Transgredir deve ser uma constante. A morte será uma conselheira valiosa. O escritor deve  usar seu corpo no submundo, no Underground, nos excessos tóxicos. Deve fazer como Aldo Huxley, na hora da morte, aplicar 100 microgramas de LSD, via intramuscular. Para aprofundar seu texto, faça como Hölderlin, fique décadas trancafiado na torre, às margens do rio Neckar, escrevendo poemas. Escrever é ser expulso de Harvard, promover uma experiência psicotrópica como Timothy Leary. Escrever é imaginar o fim do mundo, voltar no tempo na hora do big-bang. Derramar letras no papel é fazer como Lima Barreto, colocar o figado em exposição para ser derretido pelo cinismo da sociedade. Escrever é urinar nos túmulos dos poderosos, jogar fezes na coroa da rainha.... 







sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Literatura Hemácia ou Hitchcock Radical... Nemesis Avícola




Literatura Hemácia

ou

Hitchcock Radical...






Pegou a antiga caneta de pena, molhou no tinteiro repleto de sangue de pássaros. A tinta de glóbulos vermelhos de aves era conseguido com a captura, principalmente pombos, por meio de arapucas espalhadas no entorno de sua casa. O contista esdrúxulo dizia:

-Um punhado de milho em troca da liberdade e da vida. Pássaros tolos. Criaturas toscas. Não aproveitam o dom da evolução, que a natureza lhe proporcionou. O céu azul sempre a disposição e eles preferem cair nas minhas arapucas....

O literato sanguíneo compunha letras que formavam fonemas, que formavam frases, que formavam períodos, que formavam contos a custa da vida de pássaros.



Dia após dia, invariavelmente, armava arapucas, capturava pombos, extraia o sangue das avezinhas e armazenava em recipientes hermeticamente lacrados, colocando no refrigerador junto com o estoque de cerveja. Sua escrita era recheada de galamatias, inspiração escolástica e aporias. Não importava se fosse considerado um anti-ecológico escrevinhador. Seus contos-sanguíneos absurdos eram a leitmotiv, a razão da sua existência. Na sua visão de mundo, na sua existência, não havia espaço a preencher, todas as lacunas tinham sido ocupadas por textos bizarros e surreais. O contista de tinta hemácia colocava seus contos em latas de cervejas, lacrava e as levava para um lago localizado no cume de um morro limítrofe a sua habitação. A dificuldade em enterrar seus escritos na beira do lago eram as sanguessugas e planárias. Ao entrar nas águas sua saúde corria perigo, mas a obsessão de escrever e enterrar suas capsulas de literatura venciam todos obstáculos e ameaças.  



Antes do epílogo, convém lembrar que toda a literatura insólita, kafkiana, foge a compreensão racional, contraria os fundamentos da ciência. As vezes, terminam em tragédias....


O sol joga suas ondas diáfanas que colorem a natureza outonal. O córrego de águas límpidas em fluxo, fazem moinhos nas pedras que rompem a superfície aquática. O contista de tintas hemácias respira fundo. Sua mochila verde musgo transporta uma nova carga de drágeas de literatura. Vai pisando em calhaus na íngreme Via Ápia de areia. Uma sombra paira sobre a cabeça. O literato olha em direção ao céu e enxerga uma pequena nuvens de pássaros. A princípio imagina tratar-se de migração de pássaros em busca de terras mais quentes, fugindo do inverno que se aproxima. Depois de alguns minutos, o céu ficou obnubilado. Por momentos, pensou se tratar de algum eclipse não previsto, mas antes de colocar os olhos no cerúleo sentiu algumas bicadas na cabeça. A Via Ápia se tornou Via Crúcis. As aves atacavam com seus bicos enfurecidos, lancinavam a carne no corpo do escritor. Sucediam-se bicos aquilíneos, frutíferos, coletores de néctar, insetívoros, carnívoros, granívoros. Garras, unhas e esporões completavam o martírio, a execução. O corpo logo caiu no chão, o sangue o cobria totalmente. Em seguida a carne, as glândulas, as entranhas ficaram expostas. Foram devoradas. Sobrou a carne menos nobre, alguns músculos. Finalmente, os urubus completaram o trabalho. Ficou só o ossário do contista na estrada desabitada, erma. Depois de alguns dias, um montanhês subindo o íngreme caminho, encontrou a carcaça. Comunicada as autoridades competentes, os ossos foram encaminhados para o laboratório  da polícia cientifica para identificação. Antes de examinar o DNA, o médico-legista preencheu o item de observações:

Obs. Avançado estado de osteoporose.






quarta-feira, 22 de outubro de 2014

As Máquinas Capitalistas, Deus Mercado, Senhor Deus dos desgraçados...



As Máquinas Capitalistas, 

Deus Mercado,

Senhor Deus dos Desgraçados






As máquinas capitalistas começaram a girar as engrenagens no leste do planeta. Amanheceu. Os terríveis tubos ejectam carbono e dióxido de enxofre  - ad infinitum. Homens autômatos, tontos como baratas borrifadas de inseticida, são fantoches do manipulador deus mercado. Drágeas, comprimidos, cápsulas de todas as matizes e todas funções são engolidas com líquidos edulcorados, corantificados, quimificados - sugados de latas de cores flamejantes. O sistema humano precisa girar, o movimento do planeta não é suficiente. Os rios secam nas planícies e os mares ganham volume pelo degelo. O paraíso se tornou inferno. As manchetes das corporações midiáticas sorriem com tanta  desgraça. Sangue, poluição, devastação, secas, mortes & dor são necessários para a alienação. Antibióticos, corticoides e feiticeiros diplomados e outras artificialidades da ciência não conseguem vencer a magia primária. Que sina, o antes símio, agora, homos sapiens, foi obrigado pelo destino percorrer.  Manipulado pelas quatros forças do universo, o bípede inventa teorias para justificar o mito do livre-arbítrio e assim justificar o sangue derramado para defender seus títulos de propriedade.  Um vazio para o universo, uma inflação de ego para a humanidade. A única maneira de lidar  com o homem, com justeza, é com cinismo acído, ou melhor, o cinismo do cinismo: - A zombaria...



Em cada homem a religião ocidental colocou uma cruz, em cada comportamento animal-humano a ciência inventa uma psicologia, a cada dúvida a vanguarda cientifica coloca o infinito. Como é terrível ver os homens no fundo do abismo de suas engenharias politicas-sociais-econômicas. Ver a babel codificada dando esperança que o pré-determinado possa ser transformado. Os sistemas tendem para a autodestruição, a humanidade é um sistema, um jogo de dados do que chamamos universo. O acaso pré-determinado é a causa que atormenta o sonho de liberdade, mas os grilhões são perpétuos na finidade humana. 



Como é atual Castro Alves, mas estendido a todos os homens: 







Senhor Deus dos desgraçados



Dizei-me vós

Senhor Deus


Se é loucura, se é verdade tanto horror...











segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Garota de Long Beach







Garota de Long Beach










Garota de Long Beach...

Sunrise... Sunrise... Sunrise...

Caminhar... Caminhar... Caminhar...



Caminhar nos Desvios de Los Angeles

Com feições orientais na aurora dourada da califórnia;

Descansar nas areias de long beach

Com vomitos de Cerveza del Pacifico...




Estranhos, navios, paraísos, alcool, magia...

Tudo é possível no perpétuo sol de Long Beach...

Garota...

Andar... Andar... Andar...

Nas longas areias brilhantes da ensolarada califórnia...




A eternidade solar nos pertence ...

No amanhecer de Longe Beach...

Você é uma garota maluca de um sonho dentro de outro

Ao infinito...





domingo, 19 de outubro de 2014

A Partícula do Inferno ou o Vazio das Palavras


A Partícula do Inferno
ou 
 Vazio das Palavras



Existem corpos que são ungidos pela assepsia moral e higiênica. Os pés são límpidos, lavados pelas mãos purificadoras de um santo cristo. Em outros, o corpo apodrece, as drogas e o álcool corrompem as entranhas, os pés caminham sem destino na loucura - Que transborda. Nada acalma minha verborreia. Nem a abstinência, nem o excesso. As palavras são jogadas sem destino, sem etimologia, em busca de uma veneta que possa purificar o destino pré-determinado da humanidade e sua sina de espinhos religiosos, científicos ou de sua própria natureza, ou seja, existência, dor & morte... O sangue, simbolo da vida, da extinção, da teologia, transporta em minhas artérias e veias a peçonha que alimenta meu inferno particular. As falanges aos poucos perdem as batalhas entre o tato e as teclas. O vinho doce e vagabundo escorrega pela garganta do soldado raso, que age como general. O meu exercito bate em retirada, mas o figado resiste bravamente a todas toxinas e demônios que o capitalismo e o deus mercado possam inventar com sua livre concorrência... Rimbaud se calou depois que percebeu que as palavras que movem o mundo não são as que preenchem os papeis, mas sim as  dos aventureiros que amputam uma perna em busca da ação - Em que os verbos edulcorados são inúteis. O verdadeiro logo está em cada pétala, em cada semente, em cada cadáver em putrefação, em cada vírus e bactérias que devoram as moléculas humanas. Poetas, escritores do nada, convido a impregnarem nos seus corpos  álcool, drogas e toda escatologia inefável do léxico do Hades. Provem os miolos de lúcifer, crucifixem sua própria mãe, cure suas feridas com a língua de mamífero. Lamba a morte  do seu pai, causado pelo revolver do amante de sua progenitora. Semeie seu jardim com as flores do mal de Baudelaire, beije as pútridas sepulturas dos poetas malditos, se torne um faquir e deite numa cama acúlea. Descubra o sentido da vida enterrando seu corpo vivo no pântano mais tenebroso do pior pesadelo. Descubra que a racionalidade é um fantoche do irracional e a loucura é a única liberdade permitida ao bípede implume. Prove os vermes que os urubus recusam. Saboreie as carcaças que as hienas rejeitaram. Seja você mesmo, ou melhor, não seja nada, apenas o vazio das palavras dos filósofos ou a fraude teórica que habita o córtex dos cientistas. Quiçá, você consiga chegar a coisa-em-si, que Kant recusou, quem sabe ache o ser, o substrato, a partícula das partículas, materialize o bóson de higgs. Viaje pelos tubos da teoria das cordas, sentado num fóton... Quanto a mim vou ficar sentado enfrentando as bebedeiras, as toxicidades plásticas, os vômitos do consumo, a náusea do existencialismo de Sartre...  





segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Uma Breve História da Existência de Jim Cristóvão



Uma Breve História da Existência 

de Jim Cristóvão





Na sua memoria ainda se encontra as gélidas barrigas de ratazanas passeando por cima de seu corpo absorto de narcóticos e álcool. Relembrando a partir da perspectiva do seu eu atual, corre um arrepio elétrico por toda parte sensível do seu ser.  Na época Jim Cristóvão era considerado um junk, um lixo social. Habitava um casarão abandonado de paredes em estado de emergência. Suas companhias limitavam-se a ratos e outros seres que viviam do descartável, do não-prestável. O dia servia para conseguir alguma moeda, por meio de pequenos golpes ou por altruísmo de algum cidadão, para financiar o frenético consumo de entorpecentes. Na pele de Jim estava escrita a historia de outside the law. Facadas, agulhadas e cicatrizes de infecções de picos compartilhados eram as tatuagens reais do passado. Quantas vezes foi acordado com o bico de coturnos da policia militar. Quantas vezes foi ameaçado de morte pelas milícias que protegiam a frente dos prédios comerciais. O fim de sua existência era uma questão de entrar na estatística, mas a teimosia do destino o tirava da média e dos desvios padrões. Podemos dizer que J. Cristóvão era o ponto fora da curva.





A mesinha de mogno que suportava o último modelo do Apple virou seu meio de garantir - financeiramente - sua existência. Jim agora era um jornalista freelance. Detestava a forma hipócrita de escrever sobre política e todo o direcionamento pró poder econômico que as grandes mídias veladamente preenchiam seus espaços no papel, nas telas e outros veículos. Precisava sobreviver, nem que para isso - tivesse que engolir sapos. Sabia que seu texto sempre era editado na redação da grande mídia, mas o implicitamente concordar, permitia suas viagens tóxicas-filosóficas. No fundo sabia que seu status atual era temporário. Todo seu esforço para sair do sub-mundo, todas concessões ao status quo - com o tempo seriam inúteis.  Conhecia os escaninhos da existência. Era um behaviorista convicto. Seu corpo fora moldado desde pré-adolescência com álcool & drogas, era uma questão de tempo para ver novamente sua nau naufragar no oceano da loucura, do underground da violência. 





Seus dedos começaram a sofrer as dores da abstinência da artilharia pesada da heroína. Depois veio as convulsões e os textos viraram páginas em branco. Os pagamentos cessaram e seu corpo ganhou a solidão das ruas. Começou a rasgar a noite nas zonas boemias da cidade - atrás de oportunidades álcool-tóxicas. As vezes, um parente ou conhecido ajudavam a manter o seu nível de loucura com alguma contribuição monetária. O tempo e modo de viver conspiravam contra Jim Cristóvão. Sua entrada nas estáticas de mortes violentas entrou no desvio padrão, estava muito perto da média ponderada. Foi numa noite fria de Porto Alegre, numa avenida onde corria um líquido sujo e gorduroso junto a sarjeta que Jim C. tombou. Levou sete tiros espalhados pelo seu corpo macilento. Certamente um acerto de dívidas com traficantes. Seu cadáver ainda esperou por um mês na câmara fria do Instituto de Pericia Legal. Como nem um parente ou amigo reclamou o corpo, Jim Cristóvão foi enterrado numa cova rasa no cemitério de indigentes do poder municipal, com apenas uma cruz feita de madeira retirada de uma  caixa de maçãs argentinas...






HALLOWEEN - O Ermitão Mutante



HALLOWEEN

O Ermitão Mutante



O Asceta caminhava na estrada de chão batido, margeando a floresta atlântica. Como de costume, diariamente, a percorria juntando gravetos e lenhas. Colhia ervas medicinais e psicoativas, frutos silvestres, que compunham parte de sua alimentação frugal. Quando estava em casa, uma cabana simples, construída com pedras do campo, madeira silvícola e algum material descartado pelos habitantes da área urbana, preparava sua alimentação e medicamentos naturais. A noite macerava e fervia as ervas alucinógenas, ouvindo o piar das corujas e de outros pássaros noctívagos. Numa noite de breu total, devido a lua nova, o ermitão sentiu um estranho êxtase em seu corpo esturricado, consequência de uma dieta de candidato a santo vegetariano e filosofo mistico, que procurava transcender a limitação da condição humana. Uma gélida sensação percorreu sua espinha. Seus olhos esbugalhados e sanguíneos expressavam a condição singular do solitário possuído. Talvez, endemoniado. O crepitar do fogo na lenha se avivou de tal maneira, que a chama atingiu a barba sebosa do asceta. O corpo corcunda, como um quasímodo, num passe mágica - se tornou ereto. Os lábios secos e selados durante anos, pela não vibração de suas cordas vocálicas, resultado dos raciocínios sem fim, beirando ao infinito, emitiram gritos originados do lado obscuro da existência, do sobrenatural. Erguido com uma postura reta e a barba em chamas, jogou o corpo contra a frágil porta do barraco. Correu pelo campo, esfregou o rosto na grama, conseguiu apagar as chamas, que destruíram seu monumento grisalho em homenagem a solidão. Continuou correndo, não parou mais. Saiu do campo e atravessou floresta gélida,  que na escuridão plena dava ares sinistros. Sua terrível transformação chegou a pequena cidade. As lâmpadas de mercúrio, penduradas nos postes de eucaliptos, quebravam a escuridão. O penitente, transformado num hábil homo apetite's, tinha a nova configuração revelada por bombardeios de fótons.


Em frente a uma mistura de bolicho e mini-mercado, sentiu suas papilas degustativas traçarem seu próximo passo. Quebrou os vidros da vitrina rústica e penetrou dentro da venda. Totalmente transtornado o vegan-asceta soltava grunhidos primitivos. Derrubou um jirau de linguiças e morcilhas rubescentes, que odorizavam sanguineamente. Seus dentes acostumados com seiva e clorofila, mordiam, estraçalhavam a carne e o sangue. Devorou grande parte dos embutidos - com animalesca voracidade. Depois a atenção se voltou para o balcão frigorífico com carnes de vacunas. Prostrado, de quatro, estraçalhou o produto animal. O vermelho carnil líquido escorria pelos lábios selvagens. O terrível espetáculo carnívoro se dava em meio ao sono inocente do povoado de imigrantes, que na sua profunda sonolência de gente simples, que recuperava as energias para a labuta na roça do amanhã. Depois do canibalismo paralelo, se ergueu bípede, erecto. As roupas puídas foram ragadas com fúria. A configuração  sinistra se precipitou pelas pacatas ruas. Com as genitálias balançando, no ar tépido do verão, que se anunciava, ambulava pela avenida principal. Como um sátiro, suspirando lascívias e captando feromônios de virgens, parou silente diante um sobrado de pedra e madeira, jardim florido de amores-perfeitos, dálias e rosas. Um novo êxtase perpassou o corpo libidinoso. Uma eletricidade sexual incontrolável foi despertada, causada por hormônios que emanavam do interior da casa. Jogou toda a energia carnal na janela bucólica. Olhou para cama onde uma jovem de pele láctea e olhos negros repousava sua castidade. Possuído por deuses pagãos, jogou seu corpo por cima da jovem. A família se acordou com os gritos juvenis desesperados, que ecoavam por dentro da casa - com um teor de terror. Os pais e os irmão juntando todas as forças não conseguiram retirar o priapo de cima do ente imberbe. O pai buscou uma faca na cozinha. Cravou no dorso do asceta mutante. Um grito de javali selvagem reverberou pela garganta. O eremita pulou a janela e correu com a faca rebrilhando nas costas. Antes de adentrar a floresta foi atingindo por uma bala. Embrenhado na escuridão, o mutante retira a lamina do dorso. A sobrenaturalidade desaparece. Não restou nem cicatrizes nos ferimentos...





O sol já lançava seus raios purificadores nos resquícios de trevas da mata densa. O solitário-Asceta, em seus estado natural, descerrou seus olhos de um pesadelo. Aturdido, levantou do chão enfolhado da selva. Sua memoria da noite anterior tinha sido afetada por amnesia. O sabor forte de carne e sangue subia do estomago. Foi matutando em direção a sua choupa, tentando desvendar a impressão carnívora. O sabor que portava era a antípoda de sua filosofia, de seu modo de vida. Seu raciocínio arrazoava uma explicação lógica. Certamente, havia ingerido alguma erva psicoativa poderosa, fora de sua dieta. Nos dias seguintes a vida do mutante foi se enquadrando no seu ramerrão filosófico-vegan. O sabor carnil foi evacuando de suas entranhas, sendo purificado por ervas e raízes. O Halloween lascivo ficou no passado esquecido, na memoria do sobrenatural...




sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Niilismo Superlativo ou Mosaico do Nada...






Non Plus Ultra...  




Sou escravo das palavras, mas não dos sentidos. O mundo carece de coerência. Os conceitos são realidades inconcretas esperando circunstâncias para se revelarem "fatos". Os léxicos são sementes que brotarão na futura atualização do campo da existência. Os grilhões são perpétuos  na frágil caminhada do homem. As palavras permitem um voo por cima do purgatório de Dante. O sofrimento do cotidiano e suas hierarquias já são suficientes para a humanidade sofrer. O sonho é a única felicidade ao alcance, enquanto sonho. Caminhei por muitos descaminhos e não vi nada diferente das "retas" estradas dos moralistas, senão suas palavras vazias e repressoras. Sartre disse que o homem é uma doença, eu digo: - Uma doença em estado terminal  - Sempre tentei ultrapassar os limites impostos; na realidade, a morte é o único ultrapassar da existência. O budismo diz que nascemos sós e morreremos sós. A filosofia nunca chegou ao ser-em-si. O ser primordial é a extinção do que chamamos de homem, animal mais consciência. Kant talvez tenha chegado ao ser-em-si, mas quando percebeu do que se tratava, logo tergiversou e escreveu: "A coisa em si (noúmenon) nos escapa, não pode ser conhecida, somente pensada". O filosofo de Königsberg afirmou que podíamos somente conhecer os fenômenos, chegar a superfície do ser, mas penso que nem isto é acessível ao humano. A eletricidade e química que percorre o cérebro são os responsáveis por toda esta ilusão. A teoria da relatividade, a física quântica e a teoria das cordas não existem fora dos limites do córtex. Todo pensamento é um engano, uma estratégia de sobrevivência que combina ações da matéria de acordo com o sistema da mente, onde fragilmente geramos o perceber a si, o individuo, mas que para o universo infinito é apenas um arroubo insignificante, um nada se manifestando num niilismo. O homem está condenado a sua ignorância iluminista, seus paradoxos crus, sua auto-ajuda de se dignificar,  dar sentido ao vazio que permanecerá vazio. Não há saída, estamos numa sinuca de bico, somos um vazio que preenche seu sentido com outro vazio denominado deus. Quantos copos de absinto precisarei esvaziar para criar coragem e navegar pelos oceanos numa frágil embarcação. Pã morreu, mas seu vinho entusiástico ainda corre nas veias dos crente, dos cientistas, dos ateu que acreditam ser uma forma especial da natureza ou até mesmo um ser especial separado da matéria; quanta ilusão meus senhores, quanto vazio preenchido com o nada. Nietzsche já havia percebido que não existem fatos somente interpretações, mas o etimólogo alemão não pode ser radical o suficiente, não teve estofo para dizer que os fatos não existem, somente  interpretações do vazio. Nietzsche nunca deixou de ser uma criança mimada, acabou seus últimos anos nos braços da mãe, pois não tinha coragem suficiente para romper com a ilusão da vontade de potência, pois este era seu último fantasma de seu castelo de areia. Nietzsche tinha medo do nada, por isso lançou todas suas farpas contra as ideias de Platão, contra o Cristianismo e o budismo, pois representavam o nada, a morte. Apolo venceu Dionísio, o racional de Sócrates sobrepujou o rio de Heráclito. A tragédia estava presa na mente, encarcerada pelos pensamentos que dançavam no vazio, no vácuo de sentido. O nada coerente havia vencido o nada do kaos, a Nietzsche só restou se refugiar na sua própria loucura, no arrimo da sua mãe e irmã. No devaneio irracional e Cataléptico Nietzsche se escondeu do nada, da tendência de sua filosofia bater na porta do nadismo, do pessimismo no vácuo...

Non Plus Ultra...  





quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Dialogos Com Stab's Quanticus - Panta Rei...


Dialogos Com Stab's Quanticus



A última vez que encontrei Stab's Quanticus, ele disse:

- Sinto que o fim está próximo, já saboreio os estertores da existência individual e o início da integração ao universo de energia e matéria sem consciência.


Um Spinoziano convicto. A natureza é deus, não existe transcendência. Tudo que vivenciava estava conforme as leis naturais. Os porres alcoólicos que debilitavam a saúde eram um exemplo da filosofia que portava nos depósitos de sua configuração neuronal. Ele ia além de Nietzsche, ultrapassava o  Übermensch, completava  aforismo do filosofo do eterno retorno:



"O que não me mata me fortalece ..."


S. Q. diz:

"O que me matará me integrará a imortalidade inexpugnável da matéria."


Como sempre nossos encontros começavam ao acaso. A rua era os bastidores, mas, invariavelmente, o palco era uma mesa de bar. Consumíamos variedades etílicas e destilávamos filosofia, física quântica e quetais.  Stab's Quanticus portava acidez e pessimismo, porém, na sua visão de mundo, havia espaço para um otimismo moderado, mas só depois de ter exarcebado todas as formas de pessimismo. Dizia, não existe inicio e nem fim. As filosofias, as ciências por mais que mascarem sua superfície com infinitos e indeterminados,  possuem na sua profundidade, no  seu esqueleto a impregnação  do mito. O Big-Bang já foi aceito pela igreja católica. Teólogos admitem que o gênesis é compatível com a teoria do Big-Bang. A física quântica para disfarçar suas aparentes contradições foi buscar na filosofia oriental um arrimo. Os iniciadores da quântica preferiram a circularidade do Yin e Yang para acalmar suas teorias sem equilíbrio, paradoxais, enquanto a roleta do cassino universal não para de rolar seus dados, num jogo sem mérito, sem culpa, sem inocência, apenas o jogo infinito do indeterminado que desconcertou Einstein  e seu deus que não vai a Las Vegas se divertir...


Nossos devaneios só eram interrompidos quando nossas pernas começavam a fraquejar. Despedíamos dizendo: "Até o acaso. Até que as circunstâncias de Ortega y Gasset nos conduzam a um novo encontro filosófico-quântico-etílico". Desta vez senti que seria a última, seu corpo frágil não suportaria mais os excessos, a desconexão com a realidade de mercado. O único consumo era o álcool e drogas ao extremo. Queria a libertação do mundo dos homens. Sua visão não aceitava mais esse  universo de formiguinhas que seguiam regras, que acatavam hierarquias e mentiras sociais. Stab's Quanticus estava perto da transmutação, logo, iria deixar o bípede implume de Platão se desmanchar. Os elementos iriam integralmente para o fluxo de Heráclito, entrariam no rio e nunca mais retornariam nesta configuração, neste espaço-tempo. Antes de dizer adeus, ouvi pela última vez suas palavras:

- Quando chegar a hora, e isto é brevíssimo, vou escrever o último conto no blog. O título será Panta Rei. Assim todos que compartilham a minha estadia neste planeta saberão que deixei a configuração humana, esta é a senha do meu desaparecimento. Todos os dias eu acessava o blog de Stab's Quanticus. Foi na segunda semana, depois de nosso encontro, que li o título fatal. Panta Rei, sim, estava escrito. Decidi não ler o conto-suicida. Apenas vou abrir algumas cervejas, escrever alguma coisa, esquecer a miséria humana e tentar transcender em algum sonho bêbado que me leve para um mundo além das ideias, além do concreto e ver martelar na minha mente infinitas vezes: Panta Rei...






segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Maxikoan - A Espera do Eclipse Total....






A ESPERA DO ECLIPSE TOTAL








Sob a chancela de quatro paredes, aprisionando verbos, adjetivos, sujeitos, vou morrendo por osmose na inércia dos objetos. Respiro, umedeço o espirito com figuras imaginárias. Os livros se tornam animados, as figuras viram substâncias, visões consubstanciadas  em palavras. Estou condenado, usei artifícios infernais, provei a maldade nietzschiana. Inalei o enxofre vaporoso das entranhas do érebo e fiz previsões catastróficas, ultrapassei Nostradamus. Bebi a água pútrida do rio aqueronte. Traí e fui traído, neguei todos os deuses, dormi com o corpo sujo de lascívia encima das escrituras sagradas. Como força admiti a fraqueza, no delírio caótico ofereci a carne ensanguentada ao espirito obscuro. Estou contaminado pelos micróbios, bactérias, miasmas, vírus, vícios e virtudes invertidas. Não tenho mais vontade de potência, imolei o corpo, sou guiado por febres, alucinações, loucuras incrustadas de naturezas ocultas que atuam nas entrelinhas do sobrenatural na sombra da razão. Não vejo mais auroras nem crepúsculos, engulo fantasmas, expilo ectoplasmas amalgamados de vida e morte.   Inspiro o ar drogado da moral escrita no remoto altar dos sacrificadores, exorcizo os sacerdotes dos demônios freudianos, vou além do além. Procuro tribos selvagens, canibais, culturas incipientes que adorem cabeças embalsamadas. Derramo a seiva no oceano da imaginação, uma hemofilia sem fim. O suicídio das ideias, a serpente peçonhenta como amiga. Ergo aços ingentes, diluo o concreto com o suco gástrico das valas do Hades, de tudo provo. Evoco mefistófeles, seduzo Perséfone do mundo inferior, sequestro a musa de Dante do sumo éter, espero na  estação do prazer  o trem do paraíso. Não tenho ícones, Windows, planilhas eletrônicas, mas surrupio as taças com ambrosia de Hebe. No target, estou fora do alvo, quase não existo, tomo o licor venenoso extraído das mandíbulas de najás. Os relógios de urânio congelaram o tempo, estão curvados no espaço-tempo, mas a carne se corrompem no tempo psicológico, no fluxo da inconsciência. Busco a matéria imaculada, sem nodoas, mas os deuses estão mortos. Herdei o chafurdar dos javalis selvagens na lama e esgoto que formam o emplastro lenitivo das feridas eternas abertas no coração da humanidade...








segunda-feira, 21 de julho de 2014

Milhares de Drones Sobre a Cabeça... #GazaUnderAtack...






#GazaUnderAtack... 


Hiroxima ... Guernica ... Ukraine...

ADORNO de Crueldade

Não Haverá Poesia Depois de

Auschwitz






Syria... Fukushima... Palestina...

O Mundo Está Ficando Hipócrita & Cruel...

Não Haverá Sorrisos, Somente Destruição  

#GazaUnderAtack





#FREEPALESTINE

Liberdade a Homens, Mulheres....

#FreeHammond #FreeChelsea

Liberdade aos Povos...

Liberdade à Verdade...











Trancafiem os Senhores da Guerra...

 Os Capitalistas...

Os Genocidas...



Fuck The Corporate World 


























 



terça-feira, 15 de julho de 2014

DEUS-INFINITO- κανένας - PEWMAFE - Zero Absoluto - A Imensidão Infinita do Sentido





A Imensidão Infinita do Sentido

Zero Absoluto =  0 K


 



O gelo e o ar polar transformaram minha percepção, meus pensamentos - e não poderia ser diferente... Os raciocínios são administrados pelo sentir, mesmo que se acredite no pensamento do pensamento, pois lá, por mais que os racionalistas cartesianos neguem, está o fenômeno como conteúdo da configuração das ligações neuroniais. O inato no sentido filosófico é o sonho de alguns cientistas e pensadores que devaneiam livres da realidade e inconscientemente procuram a prova de sua religiosidade imanente disfarçada em teses. 






Foram semanas de embate pelo cone sul - caminhos gelados da patagônia. Ônibus, caronas, longas caminhadas e litros de vodkas até o destino. Talvez seja a última viagem. Como um esquimó, como um velho samurai ou mesmo como certos tipos de animais, procurei um lugar solitário, ermo e pagão para decompor o corpo na terra - no momento, na imortalidade do gelo - da última ponta da América do Sul,  antes do mar que leva ao polo sul. Não tinha mais nada a oferecer a sociedade humana e a reciproca era verdadeira. Um velho mapuche se disponibilizou a me levar ao lugar que nem uma religião teve a ousadia de chegar. Onde o inverno joga sua tinta branca por toda a parte... O velho mapuche ligou a velha camionete ford - em direção a civilização, despedindo-se, disse: "Sonhador", pronunciado no idioma mapudungun (gente da terra):

- Pewmafe



Na realidade, o sonho não passa de uma forma de pesadelo e o contrário é verdadeiro... Armei a barraca no sope congelado de um pequeno monte. Não achei terra para fixar a barraca, somente o gelo pagão, minha companhia no fim do mundo, no extremo pensamento, em procura de sentido. Coloquei algumas garrafas de vodka por perto da barraca. Disponibilizei alguns livros e papeis em brancos de prontidão. O alimento ficou empilhado em caixas no fundo da moradia de lona. A noite era cortada por goles generosos de vodka e estrelas cadentes no infinito azul do fim do mundo. A caneta depois de aquecida, acariciava violentamente o papel com sua tinta suicida. Assim se tornou a rotina, após algumas semanas. O deus-do-fim-do-mundo ou o deus-infinito-nada havia se apoderado da minha consciência e inconsciência no sentido sartriano. A solidão infinita absorveu meu corpo pela imensidão branca que se estendia ao infinito, que se alternava com um sem-fim de estrelas, constelações, galaxias e objetos espaciais que cortavam o céu noturno no último respiro do continente americano austral. Perguntava em minha filosofia polar, o que seria o nascimento e a morte - senão configurações da matéria e energia, que se espalham pelo universo em equações da quântica e da relatividade. Apesar de todo legado de Heisenberg (A Era da Incerteza) e de Albert Einstein ( E = mc² - Teoria da Relatividade Restrita e Geral), a "verdade", a coisa-em-si que Kant afirmou ser impossível para o homem ter acesso, entrou pelos meus poros, percorreu a corrente sanguínea e se instalou no neocórtex. Não foi a ciência, a religião, a filosofia ou qualquer forma de antropomorfismo, mas sim a energia congelada, a matéria alterada pela temperatura extrema na porta do polo sul. Sim, o indício do deus-nada-infinito está presente na imensidão solitária do frio sulino. O deus-nada-infinito é o zero absoluto, onde todas as formas desaparecem, onde o fenômeno se transmuta em coisa-em-si. A terceira lei da termodinâmica de Max Planck afirma que a "entropia de um cristal perfeito desaparece no zero absoluto", digo, tudo que é superficial e o que conhecemos, se transforma em deus-nada-infinito a 0 kelvin... E foi numa noite de temperatura de 40º C negativos que o deus-nada-infinito, com uma voz socrática, aproveitando a minha corrente sanguínea-etílica para chegar a minha consciência, falou:



- VOCÊ JÁ SABE O SEGREDO DO UNIVERSO, O SEU PENSAMENTO CHEGOU AONDE NEM UM HOMEM, NEM UM SEMI-DEUS OU MESMO OS DEUSES DOS LIVROS SAGRADOS OUSOU CHEGAR, PORTANTO VOCÊ ESTÁ APTO A IMORTALIDADE INFINITA DO ZERO GRAU KELVIN... TOME A CICUTA QUÂNTICA-RELATIVA E VENHA PARA O NADA DO DEUS-INFINITO-κανένας...







sexta-feira, 27 de junho de 2014

Esse Est Percipi - Eu não sou percebido, logo não existo ou Amanhã pode não ser...




ESSE EST PERCIPI

Eu Não Sou Percebido, Logo Não Existo...






Amanhã pode não ser... David Hume disse "Se o sol nasceu todos os dias até hoje, não quer dizer que amanhã ele vá nascer". A neblina fria da noite laminada nas carnes indigentes entra pela inspiração obrigatória do ser determinado, pelo conjunto de fatores que regem a composição do universo... Não tenho mais deuses, livre-arbítrio, suores de prazer. Apenas ouço mentalmente o bolero de Ravel como um compasso a um fim que se estende na linha medíocre do tempo biológico. Os passos em direção ao abismo não são diferentes aos dados para o cerúleo, pois não existe seres demoníacos, nem angelicais. Cada vez fico mais próximo de George Berkeley, mas um Berkeley, sem deus, sem uma mente universal. Apenas comungo que o fenômeno é construído no epifenômeno por meio dos feixes de percepções oriundos do objeto que nunca teremos conhecimento. O nada alimenta o ser, o ser é o nada na revolução que inverte a pergunte de Heidegger ,"Por que há simplesmente o ente e não antes o nada?". O nada constroem o ser. O ser é fruto da árvore que não temos na floresta de nossos conceitos. A floresta chamada realidade é uma impossibilidade para o homem. Kant ao chegar a esta conclusão se comportou como um membro de um povo primitivo. Em vez, de erguer mitos e tabus, como todos aborígenes, construiu as categorias e o imperativo categórico - para se proteger dos mistérios silvícolas. Os tambores do desespero percutiram na mente idealista kantiana, viu seu mundo desmoronar, seu sentido não encontrar guarida no ser, precisava de melhores argumentos para superar a angustia. Precisava de algo concreto, mesmo que fosse impreciso para que almejasse a Pax in Aeternum. Esta seria sua contribuição para o pequeno mundo burguês da individualidade e da perpetua ambição e da justificativa da propriedade; um conceito particular nascido nas entranhas da irracionalidade - que precisava de uma indumentaria universal, racional...





Vivo do nada na existência do vácuo de noites vazias. Os copos estão vazios, as cartelas foram consumidas, as garrafas estão atiradas no chão existencial do quarto que abriga o nada do ser-ai-no-mundo-do-niilismo de cada dia. Não sou percebido, não existo para o mercado, para a sociedade consumista. As letras tentam compor, organizar o nada em fractais sem fim... Nietzsche é digerido, mas não preciso mais de seus filosofemas, suas alegorias baseadas em sua etimologia da loucura. Agora tenho minha própria loucura do nada. O nada é minha palavra definitiva, da sua repetição depende a existência. A madrugada se estende em direção da aurora que pode não acontecer. Faetonte, filho de Hélios e da ninfa Clímene, pode estar guiando a carruagem de seu pai. Pode estar possuído pelo Complexo de Édipo Suicida e destruir tudo que se relacione com o esplendor paterno. As rédeas dos corcéis em suas mãos podem ser comparadas com os botões nucleares nas mãos dos tiranos, que estão encima desta bola chamada planeta terra. Vou buscar o combustível para alma, enfrentar a noite gelada da patagônia, dos ventos polares que chicoteiam as carnes do nada, que preenchem o niilismo em busca do infinito-deus-nada.... Vou como um esquimó perdido no pólo sul, como um urso branco deslocado no mar boreal, navegando em um pedaço de gelo da Antártida a procura de estupefacientes e álcool infinito em direção ao nada.....  Estou preso ao eterno suplício de Tântalo, ao eterno retorno de Nietzsche, sem poder interferir no meu nada eterno, na repetição infinita do nada se projetando no vazio do niilismo...







O NADA É ETERNO, É BRONZE E CRUEL...




segunda-feira, 23 de junho de 2014

GLOBALIZAÇÃO - De Ho Chi Min a Glauber Rocha...



De Ho Chi Min 
a
Glauber Rocha....




Em 1968, se estabeleceu uma ponte energética, um tele-transporte que tinha uma cabeça no Vietnam e outra em Porto Alegre. Para ser mais preciso, a cabeça no Vietnam ficava no meio da selva em que fuzileiros navais americanos e vietcongues travavam sangrentas batalhas. O sul capitalista contra o norte comunista. O fluxo energético se dava da terra de Ho Chi Min em direção a capital gaúcha, que vivia seus anos de chumbo promovidos pela Ditadura Militar. A ponte de transporte durou átimos de segundo, mas foi suficiente para tele-transportar dois vietcongues das selvas para um cinema na cidade brasileira. A casa cinematográfica exibia Terra em Transe de Glauber Rocha, um dos expoentes do cinema novo no Brasil. Os guerrilheiros comunistas caíram no pátio, nos fundos do cine, portando dois Ak-47 e indumentaria camuflada de marrom e verde. Ouvindo o ruído dos corpos orientais, funcionários foram averiguar o que havia ocorrido. Atônitos, os vietcongues colocaram os fuzis no cérebro dos empregados da casa de exibição cinematográfica. Após momentos de tensão e pânico, ouve um incipiente diálogo que misturava palavras em inglês e mímicas.





Na realidade, não era um cinema comercial e sim uma fachada, um aparelho da VPR, Vanguarda Popular Revolucionária, com fins de dar suporte aos guerrilheiros urbanos que lutavam contra a ditadura. O governo militar começava a fechar o cerco contra os revolucionários tupiniquins. Torturas, sequestros, fuzilamento e jogar guerrilheiros ou supostamente comunistas em alto mar era alguns dos meios que a ditadura se servia para livrar-se dos opositores. Os membros da VPR, assim como de todos outros grupos de luta armada, nutriam um sonho utópico de tomar o poder e tornar a sociedade brasileira mais justa. Era o ar que se respirava nos anos sessenta e no início dos anos setenta - depois do exito de Fidel Castro e Che Guevara em Cuba... Na época, Regis Debray lançava a bíblia da esquerda, Revolução na Revolução; em Paris no movimento de maio/68 - era proibido proibir; em todo mundo pululavam ideias revolucionárias que embalavam as mentes em busca de um mundo melhor. Eram Hippies, beat's, maoístas, trotskistas e um leque amplo de rótulos dos que queriam transformar o mundo pela política, pelas armas, pelo comportamento, pelas drogas, pela música...






Foi depois da última sessão no cinema, que os membros da VPR se reuniram para deliberar sobre os dois vietcongues.  Na mesa redonda copos e cinzeiros fumegantes testemunhavam as facções da esquerda, até então diluída no objetivo comum - ver as divergências  emergirem. A ala maoista queria entrega-los para a ditadura militar; já os trotistas, apesar da divergência figadal com a ala soviética, concordaram a favor de mante-los no cinema até aparecer uma oportunidade de mandá-los ao país de origem, outras tendências - divergiam. Contudo, a ponderação e a solidariedade perduraram, afinal, todos vinham da ideologia marxista e tinham um inimigo prioritário em comum, ou seja, o imperialismo americano. Os vietcongues ficariam no aparelho da VPR, o cinema de fachada, até aparecer a oportunidade de envia-los para casa.






O problema da moradia estava resolvido. Ficariam no porão do cinema, apesar de insalubre e pouco iluminado. Estavam bem melhor acomodados do que os tuneis que cavavam e permaneciam na maior parte do tempo no Vietnam, como verdadeiras toupeiras humanas. A alimentação vinha do restaurante macrobiótico estabelecido no centro de Porto Alegre. Uma vez por semana buscávamos arroz cateto integral e cozinhávamos diariamente para nossos hospedes asiáticos.  A higienização dava-se após o fechamento do cinema, os dois subiam até os toaletes e mantinham os corpos limpos. Alimentados e higienizados, os vietcongues se dedicaram a aprender o idioma português e logo começaram a estabelecer pequenos diálogos com os guerrilheiros tupiniquins.




CORTE NO TEMPO:
Decorreram vinte anos. A estadia dos vietcongues no brasil foi "legalizada". Os escaninhos paralelos da esquerda revolucionária, providenciou  documentos. Já não havia o apetite da revolução social, agora o mundo estava empenhado em acelerar sistemas baseados no silício, em sintaxes de linguagens computacionais, erguer Shopping Centers e esconder os miseráveis nos subúrbios das megalopes.   As drogas agora estavam criminalizadas, alguns ex-hippies  operavam em Wall Street, surgiam os yuppies e o capitalismo estava consagrado no ocidente. Os que processavam ideologias marxistas eram taxados de idiotas da América.  As flores das comunidades alternativas agora eram admiradas nas telas dos primeiros Macintosh. Foi nesse contexto que os dois vietcongues embarcaram no aeroporto de porto alegre em direção ao seu país de origem. Alguns ex-guerrilheiros sobreviventes da mão pesada da ditadura, acompanharam os amigos asiáticos iniciar o voo em direção ao oriente misterioso, da china politicamente comunista e economicamente  capitalista.....