quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Dialogos Com Stab's Quanticus - Panta Rei...


Dialogos Com Stab's Quanticus



A última vez que encontrei Stab's Quanticus, ele disse:

- Sinto que o fim está próximo, já saboreio os estertores da existência individual e o início da integração ao universo de energia e matéria sem consciência.


Um Spinoziano convicto. A natureza é deus, não existe transcendência. Tudo que vivenciava estava conforme as leis naturais. Os porres alcoólicos que debilitavam a saúde eram um exemplo da filosofia que portava nos depósitos de sua configuração neuronal. Ele ia além de Nietzsche, ultrapassava o  Übermensch, completava  aforismo do filosofo do eterno retorno:



"O que não me mata me fortalece ..."


S. Q. diz:

"O que me matará me integrará a imortalidade inexpugnável da matéria."


Como sempre nossos encontros começavam ao acaso. A rua era os bastidores, mas, invariavelmente, o palco era uma mesa de bar. Consumíamos variedades etílicas e destilávamos filosofia, física quântica e quetais.  Stab's Quanticus portava acidez e pessimismo, porém, na sua visão de mundo, havia espaço para um otimismo moderado, mas só depois de ter exarcebado todas as formas de pessimismo. Dizia, não existe inicio e nem fim. As filosofias, as ciências por mais que mascarem sua superfície com infinitos e indeterminados,  possuem na sua profundidade, no  seu esqueleto a impregnação  do mito. O Big-Bang já foi aceito pela igreja católica. Teólogos admitem que o gênesis é compatível com a teoria do Big-Bang. A física quântica para disfarçar suas aparentes contradições foi buscar na filosofia oriental um arrimo. Os iniciadores da quântica preferiram a circularidade do Yin e Yang para acalmar suas teorias sem equilíbrio, paradoxais, enquanto a roleta do cassino universal não para de rolar seus dados, num jogo sem mérito, sem culpa, sem inocência, apenas o jogo infinito do indeterminado que desconcertou Einstein  e seu deus que não vai a Las Vegas se divertir...


Nossos devaneios só eram interrompidos quando nossas pernas começavam a fraquejar. Despedíamos dizendo: "Até o acaso. Até que as circunstâncias de Ortega y Gasset nos conduzam a um novo encontro filosófico-quântico-etílico". Desta vez senti que seria a última, seu corpo frágil não suportaria mais os excessos, a desconexão com a realidade de mercado. O único consumo era o álcool e drogas ao extremo. Queria a libertação do mundo dos homens. Sua visão não aceitava mais esse  universo de formiguinhas que seguiam regras, que acatavam hierarquias e mentiras sociais. Stab's Quanticus estava perto da transmutação, logo, iria deixar o bípede implume de Platão se desmanchar. Os elementos iriam integralmente para o fluxo de Heráclito, entrariam no rio e nunca mais retornariam nesta configuração, neste espaço-tempo. Antes de dizer adeus, ouvi pela última vez suas palavras:

- Quando chegar a hora, e isto é brevíssimo, vou escrever o último conto no blog. O título será Panta Rei. Assim todos que compartilham a minha estadia neste planeta saberão que deixei a configuração humana, esta é a senha do meu desaparecimento. Todos os dias eu acessava o blog de Stab's Quanticus. Foi na segunda semana, depois de nosso encontro, que li o título fatal. Panta Rei, sim, estava escrito. Decidi não ler o conto-suicida. Apenas vou abrir algumas cervejas, escrever alguma coisa, esquecer a miséria humana e tentar transcender em algum sonho bêbado que me leve para um mundo além das ideias, além do concreto e ver martelar na minha mente infinitas vezes: Panta Rei...






segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Maxikoan - A Espera do Eclipse Total....






A ESPERA DO ECLIPSE TOTAL








Sob a chancela de quatro paredes, aprisionando verbos, adjetivos, sujeitos, vou morrendo por osmose na inércia dos objetos. Respiro, umedeço o espirito com figuras imaginárias. Os livros se tornam animados, as figuras viram substâncias, visões consubstanciadas  em palavras. Estou condenado, usei artifícios infernais, provei a maldade nietzschiana. Inalei o enxofre vaporoso das entranhas do érebo e fiz previsões catastróficas, ultrapassei Nostradamus. Bebi a água pútrida do rio aqueronte. Traí e fui traído, neguei todos os deuses, dormi com o corpo sujo de lascívia encima das escrituras sagradas. Como força admiti a fraqueza, no delírio caótico ofereci a carne ensanguentada ao espirito obscuro. Estou contaminado pelos micróbios, bactérias, miasmas, vírus, vícios e virtudes invertidas. Não tenho mais vontade de potência, imolei o corpo, sou guiado por febres, alucinações, loucuras incrustadas de naturezas ocultas que atuam nas entrelinhas do sobrenatural na sombra da razão. Não vejo mais auroras nem crepúsculos, engulo fantasmas, expilo ectoplasmas amalgamados de vida e morte.   Inspiro o ar drogado da moral escrita no remoto altar dos sacrificadores, exorcizo os sacerdotes dos demônios freudianos, vou além do além. Procuro tribos selvagens, canibais, culturas incipientes que adorem cabeças embalsamadas. Derramo a seiva no oceano da imaginação, uma hemofilia sem fim. O suicídio das ideias, a serpente peçonhenta como amiga. Ergo aços ingentes, diluo o concreto com o suco gástrico das valas do Hades, de tudo provo. Evoco mefistófeles, seduzo Perséfone do mundo inferior, sequestro a musa de Dante do sumo éter, espero na  estação do prazer  o trem do paraíso. Não tenho ícones, Windows, planilhas eletrônicas, mas surrupio as taças com ambrosia de Hebe. No target, estou fora do alvo, quase não existo, tomo o licor venenoso extraído das mandíbulas de najás. Os relógios de urânio congelaram o tempo, estão curvados no espaço-tempo, mas a carne se corrompem no tempo psicológico, no fluxo da inconsciência. Busco a matéria imaculada, sem nodoas, mas os deuses estão mortos. Herdei o chafurdar dos javalis selvagens na lama e esgoto que formam o emplastro lenitivo das feridas eternas abertas no coração da humanidade...