IMEXA
Poetisa Que Abrigava Dr Jekyll & Mr Hyde Em Sua Alma
Toda vez que o sapato furava, partia ao meio - literalmente - encerrava-se um ciclo existencial. Depois da queimada irracional de uma fase, advinha outra - de racionalidade fria, metódica - porém, no abrigo das letras revoltas dos poetas num oceano profundo de insanidade. No refúgio, no intervalo entre a circularidade das fases - a mente era invadida por uma horda de escritores malditos. Sempre estavam presentes - "Les poètes maudits" - Verlaine, Rimbaud, Baudelaire, Mallarmé, etc... A existência de Imexa seguia o fluxo de alternâncias entre a veneta e a sobriedade. A intersecção entre a dialéctica, podemos até denominar síntese, servia para a poetisa elaborar um balanço escriturado por rimas e verves doidivanas. Seu Sapato de salto alto era o termômetro que indicava o fim de um ciclo. Às vezes, a quebra do salto indicava o fim da fase irracional, mas por outro lado, o aprofundamento no estouvamento, que só era interrompido diante um furo na sola fashion, o contato da palma do pé com o chão cru da dura realidade.
Os intervalos eram uma aceleração para fase irracional - ou a desaceleração para a Bonança. As escrituras poéticas sofriam a influencia do álcool, a degradação do corpo ou uma paixão que não aceitava limites. Imexa com seus cabelos negros, em época de racionalidade, radiava de sua pele morena todos os quebrantos possíveis. Seus olhos Sunshine inspiravam uma sensação de luminosidade, de zen budismo e uma doce empatia das calmarias. O sapato de salto intacto era índice do conjunto de predicados que iluminavam uma paz inefável - que emanava de sua áurea. Sua voz era serena, suas palavras eram simétricas, ritmadas e edulcoradas como a ambrosia que Hebe serve no Olimpo aos deuses.
Na semana passada, Imexa andava quase descalça, seus pés encostavam nas lajes frias do basalto outonal. Sua graça em tempos lógicas era uma mistura das deusas gregas: Atenas e Afrodite. Conseguia harmonizar a beleza e sexualidade (Sex Appeal) com o conhecimento. No entanto, se encontrava em polo oposto, seus cabelos de medusa davam a sua face um beleza insana. Seus dedos e neurônios em hábeis dígitos e fantásticos sinapses preenchiam a tela do iPhone com poesias libertarias - emergidas no fluxo da consciência e submergidas no absinto, que a fazia naufragar no Café Rimbaud Express. Sua mesa preferida ficava embaixo da árvore exótica, que nem os garções - ou habitues, sabiam especificar seu nome e origem. Seus livros, iPhone e copos da verde bebida dos poetas franceses do século XVIII, iniciavam a ocupação do campo de batalhas etílicas-culturais ao entardecer. Uma luz verde intensa do solo - ganhava a copa do exótico vegetal. Imexa antes de iniciar o ritual absíntico, bebia veloz e furiosamente duas taças de tequilas, sugando o suco de limão e beijando o sal com os lábios injuriados de avidez poética. Sua alma se retorcia - sua verve ácida expulsa Dr. Jekill. Incorporado Mr Hide, absorve o absinto vorazmente. Imexa inicia a frenética digitação no seu aparelho do genial finado Steve Jobs, a maçã de Isaac Newton. Seus cabelos de medusa se agitam, seus pensamentos se absorvem e jactam-se das sombrias zonas de criatividade do córtex, seus olhos reviram-se num êxtase luciferiano. Os serviçais, que trazem e levam copos de absinto, juram sentir cheiro de enxofre e murmúrios sibilinos do além. O estado de coisas se sucedem por semanas, por meses, até o momento que seus pés nus encostam no chão invernal, no gelo das primeiras geadas sulinas. Sua alma vai perdendo o fogo do Hades. Cerberus abre uma exceção e a conduz ao barco de caronte que a leva novamente ao mundo da Luz. Ela será uma Perséfone, terá que retornar ao Hades, pois inocentemente provou o fruto maldito da poesia francesa.
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