Pensamento Analógico-Digital-Anárquico
De Proust ao Kaos
Numa evocação ao passado, talvez a busca do tempo perdido de Proust - À la recherche du temps perdu - depois de uma crise de nostalgia, resolvemos passar na rua da infância. Resgatar o sonho perdido dentro do pesadelo hodierno. Quiçá, encontraríamos as cadeiras preguiçosas em que jogávamos nossos corpos serelepes para descansar e olhar o infinito bordado de estrelas que ainda não sofriam prejuízos estéticos da mega iluminação moderna e da eletricidade infinita. Também sentiríamos o gosto dos pré-refrigerantes domésticos. Deixaríamos a Gasosa, o Gengibre escorrer lentamente por nossas gargantas de antanho, então, o dream-magic de nossas infâncias penetraria em nossos cérebros digitais. O passado analógico das imensas felicidades se reporiam em nossos corações tão maltratados pelo presente tecnológico.
O presente é o passado mais as circunstâncias que nos cercam. Nós somos pontos de uma linha na evolução, se houvesse alguma falha anterior, não seriamos o que somos hoje. Estamos condenados pelo pretérito e absolvidos pelo determinismo que os defensores do livre arbítrio negam. O único livre-arbítrio que o homem dispõe é o pensamento. Podemos estimular lembranças e edulcorá-las. Rever conceitos e acrescentar atributos. Criar santos, monstros e odiar ou amá-los. A poesia é fruto do livre-arbítrio, a literatura permite o impossível, que o diga Gabo & Kafka. O sonho é o livre-arbítrio do inconsciente. O vígil é o coordenador determinista de todo livre-arbítrio. Não nego o que escrevi anteriormente, porém somos o joguete de regras que não conhecemos, apenas suspeitamos. Karl Popper nos ensinou que a ciência é provisoria. Os deuses mudam conforme a civilização, a etnia. O pré-socrático, Xenófanes de Cólon, afirmou que se os animais tivessem o dom da pintura, representariam os seus deuses em forma de animais, ou seja, sua própria imagem.
Vejo homens estufarem o peito e orgulhosamente traçarem organogramas e se atribuírem poderes. Economistas discriminarem as classes sociais, criando escalas de valores em que o ter é a graduação para ser considerado um homem de "Bem". A verdade está intimamente ligada ao poder econômico que estampa sua ideologia nos veículos submissos de comunicação. Vejo a população como um rebanho pastando o que o marketing dirigido a alienação ofereceu. Homens vendem suas almas para o vil metal e se confortam na religião. Acreditamos que a humanidade é uma causa perdida, ou seja, como disse o filosofo existencialista Jean-Paul Sartre: - O homem é uma doença.