segunda-feira, 23 de junho de 2014

GLOBALIZAÇÃO - De Ho Chi Min a Glauber Rocha...



De Ho Chi Min 
a
Glauber Rocha....




Em 1968, se estabeleceu uma ponte energética, um tele-transporte que tinha uma cabeça no Vietnam e outra em Porto Alegre. Para ser mais preciso, a cabeça no Vietnam ficava no meio da selva em que fuzileiros navais americanos e vietcongues travavam sangrentas batalhas. O sul capitalista contra o norte comunista. O fluxo energético se dava da terra de Ho Chi Min em direção a capital gaúcha, que vivia seus anos de chumbo promovidos pela Ditadura Militar. A ponte de transporte durou átimos de segundo, mas foi suficiente para tele-transportar dois vietcongues das selvas para um cinema na cidade brasileira. A casa cinematográfica exibia Terra em Transe de Glauber Rocha, um dos expoentes do cinema novo no Brasil. Os guerrilheiros comunistas caíram no pátio, nos fundos do cine, portando dois Ak-47 e indumentaria camuflada de marrom e verde. Ouvindo o ruído dos corpos orientais, funcionários foram averiguar o que havia ocorrido. Atônitos, os vietcongues colocaram os fuzis no cérebro dos empregados da casa de exibição cinematográfica. Após momentos de tensão e pânico, ouve um incipiente diálogo que misturava palavras em inglês e mímicas.





Na realidade, não era um cinema comercial e sim uma fachada, um aparelho da VPR, Vanguarda Popular Revolucionária, com fins de dar suporte aos guerrilheiros urbanos que lutavam contra a ditadura. O governo militar começava a fechar o cerco contra os revolucionários tupiniquins. Torturas, sequestros, fuzilamento e jogar guerrilheiros ou supostamente comunistas em alto mar era alguns dos meios que a ditadura se servia para livrar-se dos opositores. Os membros da VPR, assim como de todos outros grupos de luta armada, nutriam um sonho utópico de tomar o poder e tornar a sociedade brasileira mais justa. Era o ar que se respirava nos anos sessenta e no início dos anos setenta - depois do exito de Fidel Castro e Che Guevara em Cuba... Na época, Regis Debray lançava a bíblia da esquerda, Revolução na Revolução; em Paris no movimento de maio/68 - era proibido proibir; em todo mundo pululavam ideias revolucionárias que embalavam as mentes em busca de um mundo melhor. Eram Hippies, beat's, maoístas, trotskistas e um leque amplo de rótulos dos que queriam transformar o mundo pela política, pelas armas, pelo comportamento, pelas drogas, pela música...






Foi depois da última sessão no cinema, que os membros da VPR se reuniram para deliberar sobre os dois vietcongues.  Na mesa redonda copos e cinzeiros fumegantes testemunhavam as facções da esquerda, até então diluída no objetivo comum - ver as divergências  emergirem. A ala maoista queria entrega-los para a ditadura militar; já os trotistas, apesar da divergência figadal com a ala soviética, concordaram a favor de mante-los no cinema até aparecer uma oportunidade de mandá-los ao país de origem, outras tendências - divergiam. Contudo, a ponderação e a solidariedade perduraram, afinal, todos vinham da ideologia marxista e tinham um inimigo prioritário em comum, ou seja, o imperialismo americano. Os vietcongues ficariam no aparelho da VPR, o cinema de fachada, até aparecer a oportunidade de envia-los para casa.






O problema da moradia estava resolvido. Ficariam no porão do cinema, apesar de insalubre e pouco iluminado. Estavam bem melhor acomodados do que os tuneis que cavavam e permaneciam na maior parte do tempo no Vietnam, como verdadeiras toupeiras humanas. A alimentação vinha do restaurante macrobiótico estabelecido no centro de Porto Alegre. Uma vez por semana buscávamos arroz cateto integral e cozinhávamos diariamente para nossos hospedes asiáticos.  A higienização dava-se após o fechamento do cinema, os dois subiam até os toaletes e mantinham os corpos limpos. Alimentados e higienizados, os vietcongues se dedicaram a aprender o idioma português e logo começaram a estabelecer pequenos diálogos com os guerrilheiros tupiniquins.




CORTE NO TEMPO:
Decorreram vinte anos. A estadia dos vietcongues no brasil foi "legalizada". Os escaninhos paralelos da esquerda revolucionária, providenciou  documentos. Já não havia o apetite da revolução social, agora o mundo estava empenhado em acelerar sistemas baseados no silício, em sintaxes de linguagens computacionais, erguer Shopping Centers e esconder os miseráveis nos subúrbios das megalopes.   As drogas agora estavam criminalizadas, alguns ex-hippies  operavam em Wall Street, surgiam os yuppies e o capitalismo estava consagrado no ocidente. Os que processavam ideologias marxistas eram taxados de idiotas da América.  As flores das comunidades alternativas agora eram admiradas nas telas dos primeiros Macintosh. Foi nesse contexto que os dois vietcongues embarcaram no aeroporto de porto alegre em direção ao seu país de origem. Alguns ex-guerrilheiros sobreviventes da mão pesada da ditadura, acompanharam os amigos asiáticos iniciar o voo em direção ao oriente misterioso, da china politicamente comunista e economicamente  capitalista.....








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