A Imensidão Infinita do Sentido
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O gelo e o ar polar transformaram minha percepção, meus pensamentos - e não poderia ser diferente... Os raciocínios são administrados pelo sentir, mesmo que se acredite no pensamento do pensamento, pois lá, por mais que os racionalistas cartesianos neguem, está o fenômeno como conteúdo da configuração das ligações neuroniais. O inato no sentido filosófico é o sonho de alguns cientistas e pensadores que devaneiam livres da realidade e inconscientemente procuram a prova de sua religiosidade imanente disfarçada em teses.
Foram semanas de embate pelo cone sul - caminhos gelados da patagônia. Ônibus, caronas, longas caminhadas e litros de vodkas até o destino. Talvez seja a última viagem. Como um esquimó, como um velho samurai ou mesmo como certos tipos de animais, procurei um lugar solitário, ermo e pagão para decompor o corpo na terra - no momento, na imortalidade do gelo - da última ponta da América do Sul, antes do mar que leva ao polo sul. Não tinha mais nada a oferecer a sociedade humana e a reciproca era verdadeira. Um velho mapuche se disponibilizou a me levar ao lugar que nem uma religião teve a ousadia de chegar. Onde o inverno joga sua tinta branca por toda a parte... O velho mapuche ligou a velha camionete ford - em direção a civilização, despedindo-se, disse: "Sonhador", pronunciado no idioma mapudungun (gente da terra):
- Pewmafe
Na realidade, o sonho não passa de uma forma de pesadelo e o contrário é verdadeiro... Armei a barraca no sope congelado de um pequeno monte. Não achei terra para fixar a barraca, somente o gelo pagão, minha companhia no fim do mundo, no extremo pensamento, em procura de sentido. Coloquei algumas garrafas de vodka por perto da barraca. Disponibilizei alguns livros e papeis em brancos de prontidão. O alimento ficou empilhado em caixas no fundo da moradia de lona. A noite era cortada por goles generosos de vodka e estrelas cadentes no infinito azul do fim do mundo. A caneta depois de aquecida, acariciava violentamente o papel com sua tinta suicida. Assim se tornou a rotina, após algumas semanas. O deus-do-fim-do-mundo ou o deus-infinito-nada havia se apoderado da minha consciência e inconsciência no sentido sartriano. A solidão infinita absorveu meu corpo pela imensidão branca que se estendia ao infinito, que se alternava com um sem-fim de estrelas, constelações, galaxias e objetos espaciais que cortavam o céu noturno no último respiro do continente americano austral. Perguntava em minha filosofia polar, o que seria o nascimento e a morte - senão configurações da matéria e energia, que se espalham pelo universo em equações da quântica e da relatividade. Apesar de todo legado de Heisenberg (A Era da Incerteza) e de Albert Einstein ( E = mc² - Teoria da Relatividade Restrita e Geral), a "verdade", a coisa-em-si que Kant afirmou ser impossível para o homem ter acesso, entrou pelos meus poros, percorreu a corrente sanguínea e se instalou no neocórtex. Não foi a ciência, a religião, a filosofia ou qualquer forma de antropomorfismo, mas sim a energia congelada, a matéria alterada pela temperatura extrema na porta do polo sul. Sim, o indício do deus-nada-infinito está presente na imensidão solitária do frio sulino. O deus-nada-infinito é o zero absoluto, onde todas as formas desaparecem, onde o fenômeno se transmuta em coisa-em-si. A terceira lei da termodinâmica de Max Planck afirma que a "entropia de um cristal perfeito desaparece no zero absoluto", digo, tudo que é superficial e o que conhecemos, se transforma em deus-nada-infinito a 0 kelvin... E foi numa noite de temperatura de 40º C negativos que o deus-nada-infinito, com uma voz socrática, aproveitando a minha corrente sanguínea-etílica para chegar a minha consciência, falou:
- VOCÊ JÁ SABE O SEGREDO DO UNIVERSO, O SEU PENSAMENTO CHEGOU AONDE NEM UM HOMEM, NEM UM SEMI-DEUS OU MESMO OS DEUSES DOS LIVROS SAGRADOS OUSOU CHEGAR, PORTANTO VOCÊ ESTÁ APTO A IMORTALIDADE INFINITA DO ZERO GRAU KELVIN... TOME A CICUTA QUÂNTICA-RELATIVA E VENHA PARA O NADA DO DEUS-INFINITO-κανένας...
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