segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Maxikoan - A Espera do Eclipse Total....






A ESPERA DO ECLIPSE TOTAL








Sob a chancela de quatro paredes, aprisionando verbos, adjetivos, sujeitos, vou morrendo por osmose na inércia dos objetos. Respiro, umedeço o espirito com figuras imaginárias. Os livros se tornam animados, as figuras viram substâncias, visões consubstanciadas  em palavras. Estou condenado, usei artifícios infernais, provei a maldade nietzschiana. Inalei o enxofre vaporoso das entranhas do érebo e fiz previsões catastróficas, ultrapassei Nostradamus. Bebi a água pútrida do rio aqueronte. Traí e fui traído, neguei todos os deuses, dormi com o corpo sujo de lascívia encima das escrituras sagradas. Como força admiti a fraqueza, no delírio caótico ofereci a carne ensanguentada ao espirito obscuro. Estou contaminado pelos micróbios, bactérias, miasmas, vírus, vícios e virtudes invertidas. Não tenho mais vontade de potência, imolei o corpo, sou guiado por febres, alucinações, loucuras incrustadas de naturezas ocultas que atuam nas entrelinhas do sobrenatural na sombra da razão. Não vejo mais auroras nem crepúsculos, engulo fantasmas, expilo ectoplasmas amalgamados de vida e morte.   Inspiro o ar drogado da moral escrita no remoto altar dos sacrificadores, exorcizo os sacerdotes dos demônios freudianos, vou além do além. Procuro tribos selvagens, canibais, culturas incipientes que adorem cabeças embalsamadas. Derramo a seiva no oceano da imaginação, uma hemofilia sem fim. O suicídio das ideias, a serpente peçonhenta como amiga. Ergo aços ingentes, diluo o concreto com o suco gástrico das valas do Hades, de tudo provo. Evoco mefistófeles, seduzo Perséfone do mundo inferior, sequestro a musa de Dante do sumo éter, espero na  estação do prazer  o trem do paraíso. Não tenho ícones, Windows, planilhas eletrônicas, mas surrupio as taças com ambrosia de Hebe. No target, estou fora do alvo, quase não existo, tomo o licor venenoso extraído das mandíbulas de najás. Os relógios de urânio congelaram o tempo, estão curvados no espaço-tempo, mas a carne se corrompem no tempo psicológico, no fluxo da inconsciência. Busco a matéria imaculada, sem nodoas, mas os deuses estão mortos. Herdei o chafurdar dos javalis selvagens na lama e esgoto que formam o emplastro lenitivo das feridas eternas abertas no coração da humanidade...








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