Três Menos Um Igual A Dois
A Matemática do Destino
Os dias continuarão ensolarados, nublados, instáveis. As pontes estarão transportando veículos, pessoas de um lado para o outro. O que existe atualmente existirá no futuro e existiu no passado, porém com as configurações díspares na timeline do espaço curvo de Einstein. O objeto será percebido pelo observador. O observador terá a sua verdade diferente da verdade de outrem observador. A coisa-em-si nunca será acessível ao sujeito, até porque ela não existe no real, apenas nos livros teológicos e filosóficos.
- Pensa rápido. Não tenho muito tempo. Em quem atiro?
- Calma... Uma decisão deste quilate não pode ser deliberada com rapidez.
- Mas você não é humano?
- Sou, mas além disso e por isso, preciso ponderar, colocar a razão e a emoção na balança.
- Que mania você tem de valorar, julgar, medir. Deixe o emocional, o irracional invadir seu ser.
- Mas de certa forma é isso que faço. Sentimento e irracionalidade são a base do racional.
A luz lunar, o plenilúnio, invadia as basculantes com rendilhas de vidro encardidos, sustentadas por ferros carcomidos encravados na antiga estrutura de tijolos à vista. O armazém, no pier depreciado pelo tempo implacável, inerte economicamente, esquecido, mergulhado na eternidade instantânea, lambido pela água sinistra e deletéria do rio nevoso e agitado pelo vento incorpóreo, emanando uma atmosfera sobrenatural, cerzia três almas que formavam um triângulo no chão plúmbeo e estabeleciam relações nada convencionais. Um diálogo decisivo sobre vida e morte, um coquetel com todos os ingredientes humanos. Num dos vértice do triângulo imaginário ficava um ente com indumentária negra contrastando com a pele esbranquiçada do rosto e os olhos vermelhos sem vida. Na mão direita portava um revolver de aço inoxidável rebrilhante, apesar da ínfima luz que o tocava:
- Seu tempo está se esgotando. Vamos... Preciso de uma decisão.
Neste momento, no berço de vime que encontrava-se em outro vértice, emitia um choramingar. A luz tênue e macia acariciava a face rósea de um bebe. O berço balançava usando energia invisível, enquanto o terceiro ser de olhos petrificados ponderava e murmurava:
- Estamos vivendo um kairos, tenho que medir as circunstâncias, sopesar as consequências de minha decisão...
Acendendo um cigarro o homem trajado de preto bafora entre os lábios sediciosos, carnis, languidos e assassinos. Reflexiona em voz alta, ao mesmo tempo que engatilha a pistola:
- Não sei, mas parece o que você decidir será inócuo para o rumo do universo. As leis que regem o infinito designarão o que acontecer aqui, portanto você é apenas o boneco do ventrículo. Decida logo, pois não hesitarei em puxar o gatilho em instantes.
A criança continuava chorar no berço movente. O homem de olhos petrificados continuava em pensamentos soturnos. Eu ou o bebe? Não conseguia equacionar. Calculava quanto tempo ainda restavam de sua existência, por essa lógica tendia a salvar a criança, mas não era tão simples. O bebe era um ser frágil suscetível a diversas enfermidades. Ele tinha trinta e cinco anos, um homem feito mais preparado para as adversidades da vida.
- Vou acender mais um cigarro este é o tempo que lhe dou...
O bebe se esganava chorando copiosamente. Os dois homens permaneciam imóveis, fleumáticos. Um com cigarro nos lábios e outro acelerando sua dialéctica, aguçando sua ética:
- Salve-se o bebe. É o mais justo. Salva-se o bebe...
Três estampidos espocaram dentro do armazém no silente cais, o homem de preto havia disparado no ser de olhos petrificados. Depois, saiu devagar, jogou o cigarro nas lajes limosas:
-Três vidas, uma decisão, uma morte, dois destinos...
Empurrando a imensa porta metálica, que separava o pier da cidade, saiu. Deixou a criança no berço a sua própria sorte. Respirou fundo o ar gélido da noite sinistra. Foi rasgando a nevoa que encobria a rua marginal do antigo porto. Flexionou seus lábios de cobre, levemente, uma concessão a uma felicidade de dever, destino cumprido. Desapareceu na escuridão decadente....
- Seu tempo está se esgotando. Vamos... Preciso de uma decisão.
Neste momento, no berço de vime que encontrava-se em outro vértice, emitia um choramingar. A luz tênue e macia acariciava a face rósea de um bebe. O berço balançava usando energia invisível, enquanto o terceiro ser de olhos petrificados ponderava e murmurava:
- Estamos vivendo um kairos, tenho que medir as circunstâncias, sopesar as consequências de minha decisão...
Acendendo um cigarro o homem trajado de preto bafora entre os lábios sediciosos, carnis, languidos e assassinos. Reflexiona em voz alta, ao mesmo tempo que engatilha a pistola:
- Não sei, mas parece o que você decidir será inócuo para o rumo do universo. As leis que regem o infinito designarão o que acontecer aqui, portanto você é apenas o boneco do ventrículo. Decida logo, pois não hesitarei em puxar o gatilho em instantes.
A criança continuava chorar no berço movente. O homem de olhos petrificados continuava em pensamentos soturnos. Eu ou o bebe? Não conseguia equacionar. Calculava quanto tempo ainda restavam de sua existência, por essa lógica tendia a salvar a criança, mas não era tão simples. O bebe era um ser frágil suscetível a diversas enfermidades. Ele tinha trinta e cinco anos, um homem feito mais preparado para as adversidades da vida.
- Vou acender mais um cigarro este é o tempo que lhe dou...
O bebe se esganava chorando copiosamente. Os dois homens permaneciam imóveis, fleumáticos. Um com cigarro nos lábios e outro acelerando sua dialéctica, aguçando sua ética:
- Salve-se o bebe. É o mais justo. Salva-se o bebe...
Três estampidos espocaram dentro do armazém no silente cais, o homem de preto havia disparado no ser de olhos petrificados. Depois, saiu devagar, jogou o cigarro nas lajes limosas:
-Três vidas, uma decisão, uma morte, dois destinos...
Empurrando a imensa porta metálica, que separava o pier da cidade, saiu. Deixou a criança no berço a sua própria sorte. Respirou fundo o ar gélido da noite sinistra. Foi rasgando a nevoa que encobria a rua marginal do antigo porto. Flexionou seus lábios de cobre, levemente, uma concessão a uma felicidade de dever, destino cumprido. Desapareceu na escuridão decadente....