Luzia, reluzia, rebrilhava no horizonte uma majestosa e imponente nave metálica - ainda que poucos raios de sol conseguissem ultrapassar a espessa camada de carbono sedimentada por séculos de atividade econômica - consequência da visão de lucro acima dos valores humanos, do equilíbrio ecológico. A astronave já havia iniciado a contagem regressiva para sua última e derradeira viagem - numa tentativa de preservar a raça humana.
Distando alguns quilômetros, uma turba maltrapilha - no mais alto grau superlativo... Homens erguendo porretes, claves e trabucos - acompanhados por mulheres com rostos vincados, urrando pelo desespero de seus filhos famélicos - carregando suas proles esfaimadas - tossindo o ar quase irrespirável - completavam a cena dantesca, apocaliptística - uma página terrificante.
Tiros...
Zumbidos...
Pedradas e...
Sangue atingiam a couraça metálica que levaria a Elite Econômica à preservação da humanidade no satélite da terra. A vida no planeta estava insustentável - o calor infernal consumia a biologia. A camada de carbono servia como um cobertor do juízo final à humanidade - não verdejava mais pelos planos inférteis - efeito da insensatez do consumo desenfreado - de uma química agressiva-poluente - da extensão da transgenia em todas as lavouras do planeta.
Os Donos do Capital...
Os mais poderosos listados das publicações revista Forbes - jogavam todas as suas fichas na Redoma-Darwiniana. Construída na lua - com o intuito de salvar suas peles e um minúsculo grupo de protegidos. Anos e anos os impostos foram sugados para o Projeto Redoma-Darwiniana. Propagado pela Big Mídia Corporativa Tradicional - como um beneficio para toda a humanidade. Afirmavam ser a esperança da preservação do Homem - mas os relatórios secretos, herméticos-científicos apontavam para o final da vida no planeta azul, da extinção da biologia terrestre.
Nem as baratas sobreviveriam...
A horda famélica definitivamente chegara junto a nave. Os propulsores não tinham sido acionados. Uma falange subiu na torre e com um cabo de aço laçou o diâmetro metálico do bólido:
Machadadas...
Pauladas...
Grunhidos...
Soltaram as presilhas que sustentavam a nave - o cabo foi jogado à súcia enfurecida na base de lançamento.
Foi puxado com uma força descomunal dos farrapos enfurecidos.
Era a cartase final da população injustiçada e descartada pela elite econômica.
A nave não demorou a se espatifar no chão de concreto - riscos elétricos se espraiavam pelo corpo de metal. Faíscas atingiram o combustível - uma língua de fogo se projetou vertical e horizontalmente - propagando o terror em escala exponencial.
Uma explosão fenomenal e inefável dizimou o creme das elites terrestres e a malta escravizada:
Sodomorra & Gomorra. Não sobrando supérstite para olhar atrás.
Aniquilação humana...
REDOMA-DARWINIANA
Lincados na tela que transmitia a cena de calamidade e a extinção - a fisionomia dos cientistas e toda a população lunar - já transportada para a colonia - foi de desesperança, de augúrios terrificantes. Os vídeos ficaram cinzas - não havia mais transmissão do holocausto global. Neste momento, os sacerdotes-cientistas trajando capas prateadas com rostos assépticos e sem expressão - convocaram os habitantes da Redoma-Darwiniana para comunicar:
- que diante os acontecimentos não havia mais motivos para viverem.
No templo principal da colonia - filas enormes esperavam os sacerdotes com suas bandejas platinadas - carregadas de capsulas de cianureto. O som de Bach completava a cena. Os Sacrificadores-Cientistas - começaram a colocar as pilulas na boca dos habitantes, como na eucaristia e a hóstia. Por fim - colocaram em seus próprios lábios:
A humanidade se extinguiu...
Não haveria mais tempo-espaço...
Não haveria mais metafísica...
Não haveria mais teologia...
Não haveria mais ciência...
Não haveria mais filosofia...
Não haveria mais antropomorfismo...
Havia chegado o fim da história...
RECICLAR ESPINOSIANO
As leis da natureza em conluio com a matéria primordial - com o bóson de higgs - com as quatro forças do universo - com a matéria e a energia escura - projetavam, ao acaso - uma nova existência em alguma paragem distante - anos-luz de onde havia terminado o reinado do homem - porém sem a racionalidade - pois a experiência não havia sido satisfatória...
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