domingo, 19 de outubro de 2014

A Partícula do Inferno ou o Vazio das Palavras


A Partícula do Inferno
ou 
 Vazio das Palavras



Existem corpos que são ungidos pela assepsia moral e higiênica. Os pés são límpidos, lavados pelas mãos purificadoras de um santo cristo. Em outros, o corpo apodrece, as drogas e o álcool corrompem as entranhas, os pés caminham sem destino na loucura - Que transborda. Nada acalma minha verborreia. Nem a abstinência, nem o excesso. As palavras são jogadas sem destino, sem etimologia, em busca de uma veneta que possa purificar o destino pré-determinado da humanidade e sua sina de espinhos religiosos, científicos ou de sua própria natureza, ou seja, existência, dor & morte... O sangue, simbolo da vida, da extinção, da teologia, transporta em minhas artérias e veias a peçonha que alimenta meu inferno particular. As falanges aos poucos perdem as batalhas entre o tato e as teclas. O vinho doce e vagabundo escorrega pela garganta do soldado raso, que age como general. O meu exercito bate em retirada, mas o figado resiste bravamente a todas toxinas e demônios que o capitalismo e o deus mercado possam inventar com sua livre concorrência... Rimbaud se calou depois que percebeu que as palavras que movem o mundo não são as que preenchem os papeis, mas sim as  dos aventureiros que amputam uma perna em busca da ação - Em que os verbos edulcorados são inúteis. O verdadeiro logo está em cada pétala, em cada semente, em cada cadáver em putrefação, em cada vírus e bactérias que devoram as moléculas humanas. Poetas, escritores do nada, convido a impregnarem nos seus corpos  álcool, drogas e toda escatologia inefável do léxico do Hades. Provem os miolos de lúcifer, crucifixem sua própria mãe, cure suas feridas com a língua de mamífero. Lamba a morte  do seu pai, causado pelo revolver do amante de sua progenitora. Semeie seu jardim com as flores do mal de Baudelaire, beije as pútridas sepulturas dos poetas malditos, se torne um faquir e deite numa cama acúlea. Descubra o sentido da vida enterrando seu corpo vivo no pântano mais tenebroso do pior pesadelo. Descubra que a racionalidade é um fantoche do irracional e a loucura é a única liberdade permitida ao bípede implume. Prove os vermes que os urubus recusam. Saboreie as carcaças que as hienas rejeitaram. Seja você mesmo, ou melhor, não seja nada, apenas o vazio das palavras dos filósofos ou a fraude teórica que habita o córtex dos cientistas. Quiçá, você consiga chegar a coisa-em-si, que Kant recusou, quem sabe ache o ser, o substrato, a partícula das partículas, materialize o bóson de higgs. Viaje pelos tubos da teoria das cordas, sentado num fóton... Quanto a mim vou ficar sentado enfrentando as bebedeiras, as toxicidades plásticas, os vômitos do consumo, a náusea do existencialismo de Sartre...  





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