IDUS MARTIAE
O Homem Perdido na Imprecisão do Espaço-Tempo...
A sibilina enuncia as terríveis palavras que selaram o destino de César:
- Idus Martiae, Idus Martiae...
Um homem caminha pela álea de carvalhos, meditando sobre a profecia: "Quem será o novo Brutus?". A lua cheia ilumina seu caminho, a maquinação de sua mente se estende pelo quase infinito ecoar do anunciado. Um segundo enunciado reverbera entre as moradas das ninfas:
- O sangue se esparramará sobre a terra insana, desvirginada. O bem e o mal se unirão nas mãos do implacável destino. A serpente e o cordeiro serão um só ser...
O homem sente uma pressão torácica. Uma taquicardia compromete sua reflexão. Seus pés perdem os movimentos e se fixam nos calhaus da álea. As pupilas se dilatam sob o efeito das ondas lunares que transpassam a atmosfera diáfana e gélida. Um vapor sulfúrico, emanado dos mistérios inacessíveis ao natural, confunde o processo cerebral. Uma ingente massa de epifenômeno derivativo se expande na imaginação: "Preciso de qualidades, silenos, números para salvar a proporção, algoritmos para apagar os fantasmas, as sombras que habitam a particularidade do meu ser afetado pela dialética divina".
Os dedos róseos da aurora anunciam o amanhecer. O homem extenuado do caminhar avista uma taberna. Um líquido carnil na taça translúcida lhe é oferecido pelo esotérico florestal. O esplendor do rubiáceo atrai seus lábios que beijam com prazer o copo refinado, preenchido com o liquor de Dionísio. O corpo cansado vai sendo narcotizado ocidentalmente. Aos poucos vai sentindo o abraço da razão. A massa informe se dissipa com a chegada da carruagem de Hélio, que inunda de ondas douradas a álea e a floresta. Um pensamento cartesiano invade o peregrino herege: "Estou convencido que os sentidos nos iludem ao captar as impressões do exterior".
Nem todos caminhos levam a roma. O homem, restaurado pelo vinho e pensamento, empoeira seus mocassins. Não existe transcendência. Os idos de março chegarão com as contradições do bem e do mal, da carne e do espirito. A lâmina do inevitável fara jorrar o sangue necessário, ignorando os valores humanos. Os deuses do universo precisam do movimento, da morte, do nascer e da ignorância eterna para oferecer a fátua felicidade terrena...
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