A arte pela estética ou o corpo sacrificado em nome da arte.
Bilhões de células por dias se desmancham em busca da sublimação. O corpo só tem função quando é sacrificado em nome de alguma faculdade intelectual. A poesia sem a desmantelação da composição humana não tem profundidade, não revela o essencial do ser. Heidegger, com todos seus erros, acreditava que o ser autentico estava vinculado a terra, aos filósofos-materialistas - os pré-socráticos. O ser caminha para a morte. A arte caminha para a eternidade. A eternidade é o resultado do intelecto obtido pelo caminho finito entre a alvorada da existência e o crepúsculo das vivências, mas um tao em que a terra decompõe a organicidade que gera o fenômeno do fenômeno. Os italianos vivem a ilusão da estética sem sujar as mãos. Os alemães sujam o corpo para produzirem um idealismo de opressão. Os franceses perfumam o ser e geram uma metafísica nervosa e contraditória. É preciso ser sujo, embriagado, enlamado nos escaninhos da existência para fabricar a arte, a poesia, a literatura e outras mercadorias geradas no córtex. A configuração da estética é a superfície, a rima. A essência é o que está por baixo do tapete. A putrefação da existência é o estrume onde os vermes se movimentam, se alimentam, mas também o substrato para as mais belas rosas, o ritmo primitivo de Dionísio. Os espinhos estão nas coroas que rasgam a carne do ungido, esperando a outra face para impor cicatrizes e ferimentos. As lâminas das adagas assassinas impressionam a memória humana, escrevem na imortalidade dos papiros etéreos. A arte está distante das regras, da razão. A irracionalidade de uma libação infinita é porta da morada poética. A tragedia sustentou a arte grega. A maiêutica socrática degenerou o teatro, a poesia e a filosofia. A razão e a lógica destruíram o panorama poético na idade média e moderna. O renascimento foi barrado por Lutero, Descartes e outros ascéticos-moralistas. Restou a arte pela arte que levou Giordano Bruno a fogueira, Galileu a prisão e a censura. Nietzsche martelou o racionalismo de Hegel, dando poder aos simulacros acorrentados por Platão. A arte essencial é impudica, está longe das técnicas pré-concebidas. A arte respira nas sarjetas sujas e gordurosas, nos licorosos vinhos ordinários da América. A arte pela arte esconde a realidade, maquila o ser autentico, aliena o bípede implume...
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