CRUZ & CICUTA
Sempre foi um cara estranho. Não bebia álcool, porém era um contumaz consumidor de drágeas diversas. Não era hipocondríaco, apenas queria experiências que alterassem seu estado de consciência. Nos tempos de sobriedade consumia lógica e matemática nos livros e no youtube. Nas loucuras de seus paraísos artificias corrompia toda a racionalidade. Uma mistura explosiva de psiques opostas. Batalhas intermináveis dentro do córtex. Os refugiados, vitimas das ciências exatas, ganhavam corpo e protagonismo - como as cópias imperfeitas de Platão na filosofia Deleuziana. Britlavik Shaoni vivia neste ramerrão, na dicotomia do mundo imaculado da razão contra a imperfeição dos sentidos. Quando estava com o corpo dominado pelos seres subterrâneos, costumava escrevinhar alucinadamente no fluxo da consciência primitiva, na fluidez dos vômitos inconscientes. Costumava dizer, quando questionado sobre sua instabilidade:
- Sou uma tribo de personalidades....
B. Shaoni registrava sua logorreia infindável no seu desktop. Arquivos se multiplicavam. Blogs em profusão. As teclas apresentavam desgastes causado por falanges elétricas, rápidas. Os textos eram reflexos de forças que disputavam posições no córtex. Rastros de filosofia, hormônios e efeitos colaterais preenchiam o editor de texto. Uma amostra de sua inefável literatura.
CRUZ & CICUTA
O discurso de Sócrates servirá para qualquer época. Será sempre atual. A liberação do corpo para atingirmos a verdade é a recompensa diante o sofrimento. A existência terrestre não é completa para dar sentido à vida. O bípede implume racional necessita da transcendência para evitar o suicídio - atingir a verdade é o antídoto. O cristianismo propõe o éden para substituir a cruz terráquea, que castiga e produz a culpa. Assim, a filosofia e o cristianismo apostam na transcendência para manter o Servum pecus imitatōrum dependente do sacerdote e da ideologia do poder. Está Implícito/explicito nos teores das escrituras humanas, diretamente ou nas entrelinhas, um proselitismo com o fim de tornar dócil e dependente as ovelhas que se submetem ao redil ideo/teológico. Absorvendo o sofrimento e a ética do poder teremos como prêmio o paraíso da verdade ou a luz eterna dos olhos da Beatriz de Dante Alighieri....
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