segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Mat's Homens - Hamburguer de Deus




Mat's Homens - Hamburguer de Deus







No horizonte, na linha reta da estrada víamos uma torre brilhar intensamente. O Sol refletia um imenso ícone de alumínio - simbolizando a grandiosidade do engenho humano. Chegamos no portal da cidade, um  ingente arco de aço e concreto, que no alto estampava três palavras em vermelho sanguíneo:

Hambúrguer, Progresso & Deus


Estávamos atrasados. Participaríamos da licitação para aquisição de gigantescos moedores de carne. Paramos o carro na cancela. Logo vieram dois homens indumentados com macacões vermelho e amarelo. Fomos identificados e autorizados a prosseguir em direção a única empresa da cidade. Chegamos ao prédio imponente da estatal de hambúrguer e sua imensa e complexa estrutura metálica que roçava o cerúleo. Fomos recebidos de forma simpática pelos executivos da industria. Informaram que eramos os únicos  a participar do concurso de aquisição das máquinas. Sentamos em cadeiras confortáveis e apresentamos nosso orçamento. O responsável pelas compras abriu o envelope e sorriu positivamente. Entre cafés e conversas animadas - os funcionários nos comunicaram que estava fechado o negócio. Encerrado as formalidades da aquisição dos moedores de carne, fizemos uma visita pelas instalações da fábrica de hambúrguer. Olhamos por uma grande janela de vidro  e vimos  engrenagens, máquinas funcionando, sob o comando da sala de controle. Toda a linha de produção era robotizada e ordenada por meio de computadores. Um cano de aço inoxidável espirrava carne moída. A cor era de um vermelho diferente da carne bovina. Perguntamos ao diretor de produção qual o motivo daquela tonalidade. Ele alegou que era devido ao tempero:



- Esse é o motivo do sucesso da estatal em ser líder imbatível na área de hambúrguer. O condimento é o segredo, assim como a coca-cola tem sua formula hermeticamente guardada, temos a nossa. 


Não tivemos acesso  apenas as divisões da câmara frigorifica - que guardava a matéria-prima  e condimentação, pois segundo os funcionários ali estava o Know-How, o busílis do sucesso.







Fomos convidados para o happy-hour . O sol já não iluminava totalmente a torre, o entardecer já se fazia presente. Comemos os deliciosos hambúrgueres acompanhados de cerveja belga. A maioria dos servidores eram simpáticos e solícitos. Conversamos sobre banalidades e demos boas risadas. Porém a noite se aproximava e tínhamos um longo caminho a percorrer para casa. Estávamos felizes, ganharíamos uma excelente comissão pela venda. Levamos  caixas térmicas com hambúrgueres e cervejas para a viagem de volta. Resolvemos beber logo que saímos da Estatal e sua imensa torre de alumínio, observamos um gigante prédio cinza sem janelas, que  tinha passado desapercebido. Exercitamos nossa imaginação para saber qual a funcionalidade de tal construção.





A velocidade nos afastava da cidade dos hambúrgueres. Na realidade, se resumia a grande torre metálica, alguns imponentes prédios governamentais e uma vila que servia de moradia aos funcionários. Diferentemente da nossa vinda, havia um carregado trafego de ônibus robustos com as janelas gradeadas em direção a fábrica. Lembrou-nos veículos que transportam  presos. Outro mistério que não conseguimos desvendar. Paramos para urinar, ouvíamos gritos desesperadores junto com os motores que cortavam o asfalto em direção a industria. Deliberamos encostados no automóvel e com as mãos portando cervejas. Estaríamos delirando ou eram realmente gritos humanos.  Nossa curiosidade etílica ativou nossa coragem.  Nada justificava aqueles veículos com centenas, milhares de pessoas. Tudo era automatizado, não havia mais que duzentos funcionários, não precisavam de mais mão-de-obra:


- Porque aquelas pessoas gritando desesperadamente dentro dos veículos em direção a estatal?







Esperamos a noite se asseverar e o fluxo na rodovia zerar. Iniciamos o caminho da nossa investigação. Descemos um quilometro antes do pórtico para não sermos notados pelos guardas. Conseguimos abrir a porta principal com uma gazua eletrônica universal, que nos daria acesso  a todas instalações. Entramos numa sala enorme - o show-room - uma parede aproximadamente de  cinquenta metros era ocupada por moderníssimos freezeres com vidros diáfanos,  expondo os diversos tipos de hambúrgueres e seus variegados temperos. Passamos o show room e entramos num corredor extenso que não tínhamos  estado durante a visita. Havia varias portas de metais reluzentes, apesar da pouca iluminação. Na primeira porta uma placa na parte superior, acima da trave, dizia:  Condenados por Assassinato. Na segunda porta outra placa com os dizeres: Condenados por Subversão. Na terceira: Indigentes. Na quarta: Revolucionários...  E assim foram se sucedendo as portas e suas placas pelo enorme corredor. A gazua digital descodificou a criptografia de uma das portas.  Vimos uma esteira com mais de vinte metros se estender até um funil, que na sua parte mais estreita caberiam dois homens com folga. Sua extremidade apontava para a entrada do moedor de carne e suas lâminas extremamente afiadas de inoxidável. Abrimos mais quatro portas e todas tinham o mesmo equipamento.  Perdemos a noção do tempo, olhamos para o relógio e a madrugada já dava sinais de cansaço. Zarpamos da fabrica. Não queríamos acreditar no que tínhamos presenciado. Chegamos ao carro e partimos em alta velocidade. Fizemos um juramento -não comentaríamos o que vimos com ninguém.   Foi uma espécie de juramento de sangue entre adultos. Não presenciamos nem um crime. Os indícios não provam nada, além disso iriamos receber uma polpuda comissão. Certamente se tratava de uma nova escola de administração, algo tipo Silicon Valley, que usava o humor negro para descontrair os funcionários altamente capacitados.






Semanas depois, estávamos reunidos na sala de vendas e marketing da nossa empresa. Como de costume os jornais estampavam suas matérias sensacionalistas. Porém nos chamou a atenção as manchetes que estampavam na capa:

          GOVERNO CONSEGUIU RESOLVER SUPER LOTAÇÃO DOS PRESÍDIOS.

PARTIDO DO GOVERNO ELIMINOU A POBREZA NO PAÍS.

PROGRAMAS SOCIAIS DO GOVERNO ACABARAM COM O ANALFABETISMO, A FOME & MORADORES DE RUA.


Uma sensação estranha tomou conta de nossas mentes. Como explicar aquelas manchetes. A economia continuava igual ou pior ao governo anterior. Não havia nem um plano de distribuição de renda. Os investimentos em educação e controle de natalidade eram inexistentes. Simplesmente nos olhamos e em uníssono gritamos e vomitamos:


Mat's Homens - Hamburguer de Deus


          






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