O RODOVIÁRIO
José Acorda. Olha o relógio no criado mudo: 4:00 AM. Na sua cabeça ainda ecoa os tiros da guerra de disputa dos pontos do tráfico na vila. Não tem muito tempo para pensar. Toca suavemente na sua esposa gravida de 7 meses. Tem um longo dia de trabalho pela frente - dirigir intensamente sob o sol escaldante do verão porto alegrense. Antes, porém, vai deixar Maria no Posto de Saúde há alguns quilômetros de distância. Amargam trinta minutos na parada. Embarcam no ônibus. Cumprimenta o colega que faz sua primeira viagem em direção ao centro histórico da cidade - um projeto do atual governo municipal que junto com a especulação imobiliária expulsa as classes de baixa renda para os confins sem estrutura.
No Posto de Saúde - uma longa fila desafia sua paciência. A realidade é dura. Maria diz para José não se preocupar:
-Vai ficar tudo bem. Pode ir trabalhar. Cuido do nosso filhinho...
José contrariado e humilhado pelos serviços deficientes de saúde respira fundo e espera mais uma vez o ônibus diante um poste que sinaliza a parada de ônibus. Embarca num coletivo. A preocupação com Maria vai dividir seus pensamentos com o estado de greve que a assembleia da categoria dos rodoviários declarou. Senta junto ao cobrador:
- Pois é velho tá difícil trabalhar com este calor...
- Pois é José. Estes veículos sem manutenção, sem ar-condicionado e nossa carga horária é para deixar qualquer um doente.
- Sabe... Minha esposa está grávida, acabei de deixa-la no Posto de Saúde. Nosso Plano Médico da Empresa não cobre o minimo...
- Pior ainda - nosso Vale Refeição. Não compra nem mais o leite das crianças.
- Vai na assembleia na noite?
- Vou José. Nunca gostei de parar, mas a situação é crítica. O salário não dá mais para viver.
- Também mudei de opinião, depois de saber que os patrões financiam as campanhas dos políticos para aumentar o valor da passagem e nos pagar esta miséria.
- A Comissão de Greve disse que as empresas de ônibus também financiam os programas dos meios de comunicações. Deve ser por isso que eles estão sempre contra nós.
José chegou na garagem da empresa. Colocou o crachá na camisa azul. Seu supervisor lhe chamou:
- José... Preciso que tu toque mais 4 horas hoje. O Pedro está com os rins lhe arrancando suspiros de dor. Está sentado esperando atendimento no setor de urgência do hospital - desde ontem a noite.
- Já sei... Minhas horas-extras vão para o banco de horas. Até hoje não consegui compensar nenhuma.
- Não gosto disto também, mas tenho família, tenho que me sujeitar.
6:30 AM - José dá a partida no ônibus. Já dos primeiros passageiros ouve as reclamações que junto com o transito caótico vai lhe deixar estressado:
- Moço... Estou meia-hora na parada. Como demora...
E assim transcorre o dia... Finalmente chega a hora de recolher o veiculo. Na garagem se une aos companheiros que pronunciam:
- Chega de Exploração.
- Queremos Salário.
- O Trabalhador Unido Jamais Será Vencido...
A assembleia decide pela greve. Os meios de comunicações corporativos imediatamente começam a guerra de versões espúrias para enfraquecer o movimento. Os patrões são recebidos pela prefeitura nos gabinetes com ar-condicionado e água mineral gelada. Nos corredores se ouvem gargalhadas animadas. O movimento pró-greve marcha pelas ruas da capital gaucha. José nutre a esperança ao lado dos companheiros por dias melhores. Eles são trabalhadores que batalham e não tem medo de adversidades. Maria está em seus pensamentos, enquanto palavras de ordens ecoam pelas ruas...
A luta é grande mas a vitoria é certa....
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.
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