segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

The Elephant Man


The Elephant Man




O Homem Elefante caminha com suas patas pesadas sem estética - a procura de uma estética. Anda por bosques perfeitamente simétricos e observa as oposições equânimes da natureza. Por instantes a pureza do belo  invade os sentidos. Sente uma teoria do gosto superior. Uma sinestesia  preenche o cérebro, as cores, as formas e o silêncio, que se associam num unívoco prazer. Alguns ruídos suspendem o êxtase. Viandantes perdidos em suas próprias vidas - ignoram a contemplação mítica do Homem Elefante. Resignado pela quebra do supra embevecimento se põe em movimento. Carrega um grande fardo, seu próprio corpo, um peso incomensurável. Abandona o bosque em direção ao urbano. Suas imensas patas afundam terrivelmente nos pântanos da impossibilidade da transcendência estética.



O Homem Elefante é incansável. Continua sua busca infinita pela estética total e superior, mas também tem o desejo de solucionar todos os problemas humanos. Seu fundamento, seu lastro é o próprio corpo deformado pela alta densidade, pelo seu corpo anti-estético, pelo seu corpo adiposo a procura de uma estética. Sua manada o abandonou, a caterva humana também - e só continua sua intensa perquirição pela estética da estética - o sumo da estética. Sua existência se aprofundou pelos abismos das rejeições, pelos tsunamis psicológicos, pela procura inútil. O último sonho foi indecifrável, nem um Super Jung conseguiria fazer qualquer associação. No ciclo R.E.M. sonhou que estava de escafandro primitivo - descendo a Fossa Oceânica Abismal de Mariana. Ao chegar na imensa profundidade, sob pressão que nem um humano poderia resistir, encontrou caixas perdidas pelos corsários - cheios de botelhas de rum. Consumiu uma quantidade inumana da bebida dos piratas. Seu corpo se transformou numa criatura achatada, como as dos habitantes destes abismos marítimos. 



O Homem Elefante faz poesias para sublimar a pesada realidade. A poesia o faz sentir como uma pena no ar tépido de verão flutuando numa sala de opio chinesa. A metáfora leva sua forma deformada a paraísos artificiais de Charles Baudelaire, mas a realidade é sempre lúgubre. A cada instante de sua consciência vê funerais passar diante seus olhos que buscam a transmutação.  Nem mesmo o clima dos velórios são capazes de entender sua eterna tristeza por conviver em meio a homens, que não  compreendem, que o condenam por sua anti-estética. O rigor do inverno logo chegará, o Homem Elefante precisa de calor, de uma fogueira na caverna de ermitão. Os parasitas do seu corpo precisam de calor para não devorarem sua carne. Sua tromba espirra lagrimas na sua via crucis, assim como Cristo na cruz faz a pergunta mais cruel que um ser pode ouvir:

- Pai!??? Pai?!!! Por que me abandonastes?!!!


O entardecer toca seus dedos na noite. O Homem Elefante cansou de sua procura. Jurou para si mesmo que não mais vai sair de sua caverna de amônia e morcegos. Ali se sente protegido, é como estivesse no ventre materno - em posição fetal. Seu espirito sutil terá mais tempo para compor poemas, versos. Não precisará mais olhar as guilhotinas decapitar cabeças sem estéticas. O que procurava está dentro de seu corpo deformado. A irremediável solidão lhe dará forças, o isolamento o poupará da ignorância estética dos homens comuns. Sua existência começa a fazer sentido no mais terrível solipsismo que um homem já enfrentou. Enfim, o Homem Elefante transcendeu sem transcender...








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